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Quando eu era pequeno não achava justo meus bonecos não falarem. Eu sabia que eles não falavam, era bobagem eles não falarem. Mas eu tinha um boneco do Buzz Ligthyear, totalmente High Tech para a minha simplicidade. Ele era meu único amigo em casa. Conversando com ele uma vez me disseram: "Seu idiota, que coisa mais idiota brincando de conversar com os bonecos". Não era justo Deus, Jesus e todos os santos terem o direito de falarem, mas os meus bonecos não.
Quem será mesmo senhor de si? - Por que me socou os dentes? - Porque te detesto - esta é a excusa. O senhor de si diria: porque meu cérebro ordenou que meu braço se movimente até a tua boca. - Por que me quer senhor de si? - Para te comer todos os dias. O senhor de si vive só em uma caverna desconhecida e nunca é o senhor do presente, é o senhor de um futuro distante e caótico que busca explicação para a própria miséria. Bata com o pau no chão, fazendo o barulho antropomórfico. Seremos animais mudados em humanos.

Raio-X Número 1: O meu direito de egocentrismo

Não tenho muitos amigos ou simpatizantes, e os poucos que tenho vejo com tão pouca frequência, mediados apenas pela rotina, pela irreparável e inescapável rotina. Sou um antipático nato. To dizendo isso não porque eu gosto de ser assim, mas porque essa condição me incomoda e eu tento contorná-la diariamente, muitas vezes sem sucesso, porque a visão primeira de todo mundo é pior do que religião fundamentalista. Mesmo que você fique nu diante de todos, elas não querem saber, você vai ser antipático. Você vai ser mais você mesmo pelo que os outros estão dizendo de você do que o que você diz de si mesmo. Essa é o meu maior obstáculo na hora de me relacionar.
O mar azul Grande como inconsciência Grande como o sonho de todos Mergulhou e quis sumir Só o mar conheceria Só o mar queria conhecer Só dele que saberia falar Que existiu O mar azul Coisas assim ninguém acredita E se de repente sumisse o mar Sumiria o grande espelho do céu E todos nadariam nas nuvens O mar azul como se respirasse os nossos segredos Ninguém sabe

Borboleteando

Virou uma semente Quando caminhava na mata Desde quando não soube como Cada história que é extraordinária por não sabermos quando quem começou como onde terminará Perdeu-se na mata de borboletas coloridas Todas borboleteando Cada uma mais risonha para o espírito E mais saborosa para a alma Tinha a de círculos azuis e vermelhos Tinha a preta, branca e amarela A de listras vermelhas e violetas A borboleta marrom, que se confunde com o seu nascer A borboleta gigante E a borboleta inexistente Que ninguém nunca não viu Até que brotou no ar Virou uma árvore flutuante Copa grande, folhas de pluma e tronco de folhas briófitas Criou asas e começou a voar Para sempre E sem a nossa necessidade de final

Ritual de Libertação

      Vou te dizer sinceramente, até porque aqui não tenho risco de me comprometer, ontem foi um dia difícil pra caramba. Dia de trabalho, todo dia de trabalho é difícil. Ficar repetindo a mesma reclamação todo dia, isso é redundância de espírito. Piora até, a situação, me dizem. Não importa na verdade, se as coisas acontecem assim, e eu chego em casa e fico pensando é porque não to sabendo separar minha vida pessoal da profissional. Todo emprego começa com um sonho, normalmente de consumo. Troquei meu sonho por desejos pequenos, desejos de meia hora. A tentativa de grandeza é calada com a porrada diária, isso é duro pra caramba. Vou te dizer que tem horas, não to aguentando mais. O desrespeito coletivo pra tudo o que era correto, não é mais. Nosso lado correto é pura imaginação, é pura fantasia da nossa cabeça, parece às vezes. É só discurso. A gente acha que está tudo bem, mas quando vai ver, isso aqui está tudo uma merda. Ninguém respeita mais o farol vermelho no trânsito.