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Aquela que não vem

Despertei esta manhã com uma lágrima laçando o peito Que desatino, que falta de elegância Assim no meio da andança Até derramei o café Sufoquei um grito Mas a lágrima, nada A manhã estava fresca A ficus agitou-se num bom dia Mas o peito afogado Dessa maneira sem razão Não me entornou ainda a vida Tudo o que é tortura pra saúde Reside no futuro Saúde, paz, fortitude Mas lágrima não larga da sua feita Sem um pingo de consideração Ela me aperta até que eu caia de joelhos No chão.

Penumbra

O mundo em si Na caverna da abstração Seguem-me Ou sigo-as eu? Às custas da imagem inconstante da inconsciência? Amanhecer é uma ideia Onde está, pois, o corte? A delimitação? O saber é presente O sábio ente Preenche-se, ao redor Está no ar e na água que ingere Está na luz que teu olhar atinge Mas não nota? Permitir-se? O limiar entre a noite e a madrugada O animal que uiva ou caça O homem que está de pé, e anda.

Joelma

- É ele quem tá falando. Ouvi o som de mute  no telefone "ótimo, telemarketing"... é consenso entre os concidadãos que nós odiamos essas ligações, mas eu tenho um motivo a mais para odiar. Foi quando meu demônio de estimação saiu voando pela janela e pelo seu rastreador infernal conseguiu detectar a frequência, e em cinco minutos eu ouvia berros de agonia e desespero do outro lado da linha. Ao que parece aproveitou a oportunidade para deixar claro que não se deve incomodar os seres do outro mundo, e muito menos os seus hospedeiros, o que resultou em por fogo em todo o prédio, rasgar as pessoas ao meio, arrancar suas vísceras e largar os corpos num cenário de putrefação e desgraça que faria qualquer bom Cristão temer pela sua própria fé. Mas minha imaginação foi interrompida: - Senhor? Senhor? Olá? - Sim, pois não. - Meu nome é Joelma, eu falo em nome do Banco do Sudão, e o senhor foi contemplado com a nossa promoção... - Olha Joelma me desculpe - inte

Quando um Herói Cai

A cidade amanheceu em polvorosa Trânsito Assassinato  Sequestro relâmpago Abuso Ofensas Roubos A cidade dormiu órfã Quando não houve ninguém Pra ser sua balança moral Se a cidade soubesse O quanto era seu os seus caminhos Mas o poste das ruas precisava estar aceso O bebê chorando no andar ao lado E o homem que podia Mas não se levantou.

Da Estátua ao Pó

Acordo O Coração está oco Sinto tudo Não sinto nada Sento em nada Não sou nada Sento Coragem errante Erra por aí Erra por ali Erra pela estrada Penso na coisa errada Reconstrói e vai O erro é a chaga Não me levanto Não sinto nada Ninguém me escuta Ninguém me sente Ninguém me cheira Ninguém é gente Respiro O alecrim e a menta A planta e a arte Eu sinto cheiro Não sinto cheiro Eu tenho cor, forma, fome e desejo Eu não te tenho Não tenho nada Não temo nada A onda anda Por onde anda a banda Bandeira? Eu ando na sua onda Eu quero sonho Vivo guerra Ei vivo em pedra Eu quero terra Não sinto em nada Não penso em nada Não penso em mim Oh vida errada Eu penso em mim Ninguém me toca Ninguém me choca A asa pórtica do amor Se desfalece da paixão caótica. Oh noite cólica Caleja o peito E sufoca! Sonha e me solta Teme a prisão E me esfola Eu sou homem de aventuras Eu sou menino de escola! Eu me sonhei Eu nos sonhei Eu te prendi Te sufoqu

O Remorso

Cometi o pior dos pecados que um pode cometer.  Não fui feliz.  Que os glaciares do esquecimento me arrastem e me percam, desapiedados.  Meus pais, que me engendraram para o jogo arriscado e formoso da vida, para a terra, a água, a volta e o ar, o fogo e a ida, Defraudei-os.  Não fui feliz.  Cumprida não foi sua jovem vontade.  Minha mente se aplicou às simétricas porfias da arte, que entretece naderias.  Legaram-me coragem, não fui valente.  Não me abandona.  Sempre está ao meu lado  A sombra de ter sido um desgraçado. 2010

A Palavra

E tenho dito Palavras demais que enclausuram o ser Onde as coisas não deixam de ser as coisas Onde as coisas passam a ser uma coisa só Que eu desaprenda a falar Desaprenda o sentido das coisas Desaprenda a utilidade das coisas E me padeça no glamour da inutilidade O coração vende quando dá Não quero Quero mendigar, distribuir sem pudor Aquela coisa não programada Abaixo à recompensa! É anti natural, é insanidade Mas é assim mesmo Antes de tudo, é uma escolha Por que então dizer quando basta? O cheiro do café pronto O cheiro de vapor e sabonete do banho quente A cama ainda quente O sofá ainda quente O corpo quente Um olhar só porque você me viu Aquele olhar que diz: que bom que está aqui E estou em qualquer lugar Não num lugar especial, eu sei Todos os lugares viram especiais Percebemos a validade das coisas Desaprendemos a validade das coisas Ignoramos a validade das coisas Aquele andar pela casa, que salta o coração E você só estava indo pra cozinh

Protocolo de Reboot

Log do sistema: Buscando vestígio de anomalia... Processando cálculo de possível falha... Anomalia encontrada. Detectando localidade e iniciando protocolo de reboot.  Nossa época é cinza e oca, e ecoa, tanto, que os sons de alegria e de tristeza entrechocam e formam um único grande e bizarro lamento. Não existe mais espaço para o poético e belo, assim como não mais a nostalgia das músicas mais loucas do período Hard Rock dos anos 70. Ficamos presos e enlouquecidos nessa combustão filosófica, política e moral. Nessa transformação de eras. Nessa confusão de atitudes e sentimentos de amor, ódio,tristeza e alegria.  - Encontramos os dois, estão ali.  Estacionaram um carro preto sobre o meio fio do parque e apontaram armas de desintegração em nós. Minha nossa, eles usam isso pra escavar minas, para ir atrás do que resta de silício e cobre nesse mundo, e estavam apontando pra nós, como se fossemos o pior dos criminosos.  Quando muito o rosto dela era um rosto inexpressivo, olhos grandes e e

O Morcego

Todo dia Na hora em que o sol se põe Na calada da noite Bem cedo quando o raio bate Passava pelo corredor resignado E ouvia sempre a mesma voz: - Apague a luz ao sair. A teimosia obstinada deixava acesa Era um apreço pela esperança E voava para a vida. Certo dia, a luz, apagou. Aprendeu se ver no escuro Transformou-se e voou Hoje em dia, dizem os que quase notam: Mora no teto, dependurado Observa tudo no sentido contrário da normalidade Desejando lembrar-se a medida do homem de verdade.

Picadeiro

Cá está senhores O bilhete de entrada Deste circo de horrores O espetáculo está aberto Ali que jaz diante Não é um homem Homúnculo das dores O sangue ferve mas não sente Cadáver rastejante A filosofia da vida reticente Este será o evento final Caiam as cortinas e no fim A tudo botem fogo "Respeitável público A criatura que aqui se apresenta É o mais indomável dos seres Que se lhe arranque a pele Com o chicote da verdade Venham senhoras, venham senhores Não que haver piedade!" Deixai que as cinzas pairem sobre o ar Que caiam intrusas em seus pratos Em seus copos de bebidas Em seus festins absolutos Que falhe a respiração do homem Que sofre do edema pulmonar E que ele se queixe Deixa assim, deixa estar. E que caia a lona Deste picadeiro horrendo A vida é um grande palco E nós somos o teatro Pierrot é a minha Colombina Nessa sequência de Arlequim A vida é um grande trato. Fecha esse contrato quanto ele mais se estende Assino aqui, pas