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Você, meu irmão

Guerra de identidade procurada - Você, homem pelado! Segura aqui esta bandeira! - dizia o soldado existencialista Para o homem pelado, era um pedaço de pau e um pedaço de pano. O homem trovejava mais forte que a natureza Era um trovejo de sangue, grito, dor, choro e esquecimento A luz apagava O acampamento não silenciava, murmurava em sofrimento Era tudo uma escuridão Guerra de identidade exigida - Você, homem vestido! Segura aqui esta bandeira! - dizia o soldado idealista Para o homem vestido, era um pedaço de pau, um pedaço de pano, e uma chibata. O homem trovejava mais forte que o universo Era um trovejo de sangue, grito, individualismo e ambição A luz apagava O acampamento silenciava em suspiro e indignação Era tudo um breu Guerra de identidade edificada - Você, homem aí, toma aí, toma Bandeira de pau, de pedra, de madeira, de terra. Era um pau, uma chibata, uma obrigação. Nem Jesus e sua cruz! Quem era pra Nhadevuruçu? Você, meu irmão, qual teu nome? Caaporã.  Pai, perdão, eles nã

A Misteriosa Eterna

Passava todo dia após o pôr do sol Ao pé de uma gentil casinha Tinha o muro ao fim do pé direito, coberto de raízes e florzinhas - Que bela arquitetura jaz além desta raízes - pensava Mas só pela fresta do alto muro ver não dava De dia em dia a vida inevitável pelo mesmo trajeto me levava E sempre a vontade curiosa ia crescendo - Um dia terei altura pra atravessar, e viverei o que após ali sabendo Certa vez em uma ocasião inesperada Um fogo fedorento e uma cálida luz me circularam Ao mesmo tempo o anjo e o diabo me pegaram Criei à esquerda a asa de um e do outro à direita Vi-me etéreo atravessado pelas partículas atômicas E quando de novo pela casinha eu passei Bati as asas e pelo muro eu pulei Oh poxa, então é isso o que eu vejo? Era só uma casinha, outro muro, tão igual ao que eu deixo Do outro lado o anjo e o demônio Breve se apresentaram - Pois é meu caro, a vida é assim Abri a porta, atravessei, e nunca mais fui visto E este foi o fim

Depressão - Digressão 7 - Aquilo que pode ter me quebrado

 Eu fui uma criança feliz, fui sim, de verdade. Eu não me lembro quando foi que me quebraram. Eu não costumava ter uma memória ruim, eu sabia o meu histórico de cor. Eu tinha uma linha do tempo muito bem clara na minha cabeça, e eu sei que sabia disso porque era comum eu contar minha história para todo mundo, em detalhes, ano a ano. Essa era a minha ideia de socialização. Conforme a gente cresce, copiamos aquilo que mais nos influencia, e isso a gente não escolhe. As pessoas querem acreditar romanticamente que sim, porque afinal qual narcisista que não sonha com sua própria biografia belamente contada na estante? Vamos deixando de lado detalhes mundanos e cotidianos, detalhes que destruiriam o mito que criamos de nós mesmos, para substituir por versões que nosso subconsciente cria para nos proteger dos nossos próprios traumas. Eu sei que isso acontece porque se até em filmes de segunda linha isso é dito, quer dizer que não é mais novidade para ninguém que se interesse pelo assunto. A q

Bom Mestre, que farei eu para ter a vida eterna?

O sonho do oprimido é ser o opressor. Nas aulas de sociologia de países como o Brasil essa é uma frase que vai surgir a qualquer momento. Um aforismo que já foi tão reproduzido que é difícil saber quem atribuir, por causa de suas diversas variações. Lá nos anos 90 falou-se muito sobre a Globalização e a tendência de um futuro em que grandes nações não veriam mais fronteiras, estenderiam seus comércios para além de seus próprios países, abandonando o nacionalismo, formando assim uma troca de mercadorias em escala global, ou a Globalização. Junto com essa troca de mercadorias há também a troca cultural, algo bastante recorrente entre nós. Temos que aprender a negociar com o parceiro, e para isso, temos entender como ele pensa, até mesmo adotar seu comportamento. É o básico do comércio. Estas influências culturais entram nos países, ficam, são transformadas, alteradas conforme os recursos locais. Ideias nacionalistas tornam-se estranhas em uma realidade em que a cultura regional é uma esp

Diego Maradona

A memória mais antiga que eu tenho de Diego Maradona era assustadora: Era a Copa de 1994. Após fazer um gol eu via aquele homem de cabelos encaracolados gritando como um diabo louco em direção à câmera. Porém eu cresci em uma casa mergulhada no preconceito, e o preconceito tem uma resposta rápida a tudo o que é diferente, o medo. Então para afastar o medo, categorizamos. "Que louco" disseram, "isso é a droga" disse outro, e ainda "ele é um cheirador". Pronto, a imagem do Maradona estava criada na minha mente, mesmo sem eu saber direito o que era a droga pra cheirar, apenas sabendo que era ruim porque me disseram que era ruim. Com o passar dos anos mais adjetivos: Maradona é amigo de assassino pelas fotos com Fidel Castro. Maradona nunca vai ser maior que o Pelé. Maradona é violento, Maradona é um grosseiro, mal educado, estúpido, irresponsável, etc. Até que me lembro um emblemático momento em que ele e o nosso maior jogador (brasileiro) de todos os tempos,

O Eremita

 Naufraguei no dilúvio da própria tragédia Era a base da forte montanha Que só água, rangido e destruição E à frente o eremita e seu capuz branco Cajado nas mãos Pernas magras tal gravetos Corpo esguio tão nutrição A trilha seguia íngreme e preguiçosa Quase no alcance do impossível Mais água, mais rangido e mais destruição E o homem de cajado na mão Moveu o dilúvio com a força do pensamento E com a força do pensamento, moveu a mão De montanha em montanha Há o dilúvio De dilúvio em dilúvio Há montanha Sorri em paz.

A Via Sacra

 Acende uma luz num domingo cinza É noite de missa Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza O cenário se alaranja Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza Já é de noite E a paróquia não conquista teu lugar Acende uma luz num domingo cinza O galo não para de cantar E que todo lamento ainda é sonho

Magia Negra

E se fossemos capaz de lhes devolver tudo o que lhes roubamos A voz A música A luz A alma O direito de ser humano Mas não posso Posso apenas ajoelhar enquanto passas Deixa-me, por favor deixa-me Deixa-me transbordar toda essa culpa Esse peso Deixa-me mostrar o que é ao menos uma vez Ser grande diante dos outros Entendo a pequenez do gesto Mas é a humilhação voluntária De que não suporta teu sofrimento Abro-te as portas para passar E deixo que todos os palcos se esvaziem Até que canses de tanto gritar Até o fim da minha existência Perdão E quando perguntam do menino O do morro? Queria que fosse vivo E é. Mas não precisa de mim Não precisa da minha licença Ou da minha permissão Isso é só voto de consciência O alarme de uma alma que sofre E se compadece Se me quiseres na batalha Lá estarei Mas sei que tens punho Força Voz Alma e Coração Peço-te apenas Por tanto que lhes roubamos Perdão Por inveja do feitiço ou da condição O tanto que nos deste A vela dessa traição Peço-te apenas de joelho

Ônix

 Vi nos olhos de um homem Que acabou de descobrir a verdade E ela dizia: Mate-me enquanto ainda há tempo Deixe meu corpo na beira da estrada E vá, sem peso na consciência. Não odiarei saber Que um dia me odiou Estarei processando a luz E o perfume das flores Enquanto vejo vermes pelo meu corpo Devorando lentamente a morte que me chega Não sobrará sombra nem luz E virá de pés descalços um menino É um ônix com um sorriso que me cega Ele correrá às voltas do cadáver E saudará meu espírito para o além Mas de joelhos pedirei perdão Com ele já me tendo perdoado. Nunca estaremos do mesmo lado.