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Mostrando postagens com o rótulo Poemas

Evocação do Nada

Na Rua Oliveira Não há nada a evocar Mãe! - gritava eu Oi - gritava ela Cadê meu tênis de brincar? Vê debaixo da cama Vê na lavanderia Vê lá no quintal Não estava em nenhum lugar Nunca esteve Nunca houve tênis Ou talvez não sirva lembrar Tudo o que eu mais amava Jamais pode existir Recordação imposta Difusa e enlatada Recordação do nada Cortinas de linho Tapete de algodão Terreno baldio O pau e bola na mão Terreno baldio Como as lembranças Do que se acabou pela metade Correram por aí dizendo Diretas Diretas Diretas De retas e caminhos que jamais passaram por aqui Mas bajulamos o abandono e o esquecimento O seu fulano (todos eles eram) que sorria sem a parte da perna Tudo aqui parecia feito pela metade Seu Cirilo não tem perna Seu Fábio perdeu o braço na máquina O Alemão que batia na mulher A gente só ria Não existe raciocínio na tragédia Aqui nunca chegou mensagem, história, ciência ou explicação Mas todo biênio é eleição Aqui tudo é conclusão No mês de outubro Dona Maria e seus dez ca

Laço Amarelo

Arco do rebento O raio do Astro A trompa do anúncio Do Rei do perdão Encontra a menina De pauper pezinhos Lacinho amarelo Em levitação O Rei que outra vez Verteu água em vinho O vinho é sangue O sangue é um pãozinho Caminha sobre águas Da dor do rebento Verto água meu vinho Salvação sangrenta

Confissão de uma derrota

Vendam minha desgraça Que fique o vencedor com as migalhas O restante de uma memória Em que até o desastre perdeu cor Perdi há muito sede e a fome, Perdi faz tempo a distinção Entre a miragem e o oásis. Aos que crêem me perdoem Foi tudo fingimento e tentativa Quis vencer as horas mortas E quão mortas foram as horas! E quantas foram elas, as horas! Mas e se houvesse um pouco mais Um minuto a mais de aguardo Uma nesga de vontade Por um fenômeno milagroso? Só mais un dia, uma chance. Brincam de felicidade, os deuses O alívio é a aposta mais alta Todos perdemos com as cartas na mão.

Metanoia

Que há neste recinto de solidão? O passar das horas percebido  Movimento das folhas no chão Ou a vista decadente  Resiste à espera, cidadão. Há tempos que não sei o que é ser E eis-me aqui, sendo. Ou quem sente o quente e frio Cadilho de nervosas reações Dos cheiros que ardem-me o pulmão Vivo a questão do quanto vivo. O que é então? Este silêncio ululante, Ao pé do ouvido? Seria esta a resposta então? Viver é constante negação! Não, não Não há como ter plena solução É tangente a ponto de interrogação. Como posso, nesse confim de esquecimento Querer dar a solução do que há muitos Buscam com o mesmo ardor? Mas tenho eu o mesmo ardor? Não tenho o mesmo ardor Quanto a mim pergunto qual mal me levará: O infarto Dos que vivem com paixão O câncer A quem a vida parasita Ou o tédio Contrição do nascimento?

Eu Nunca Estive Aqui de Verdade

O trilho do trem e o tilintar Arrepia-me tal completamente Com seu ácido canto sedutor Atiro-me às presas da serpente O trilho do trem e o seu trajeto A múltipla curva repentina Seu sussurro ensurdecedor Condiz-me a silente divina O trilho do trem e seu caminho Infinitamente serpenteia Magnético meus olhos atrai Mergulho no canto da sereia O trilho do trem e a parada O coração oco, lar de todo o mal Mil mundos que no peito anseia Chegar-me, eu rogo, à estação final.

Si Sustenido

E foi assim que essa nota escapou Errada pois, diria o maestro Mas ficou lá, pendente no ar O público aplaudiu, levantou-se e saiu A banda juntou o equipamento E a nota, mesmo só, não partiu. Pendeu adiante, e ficou presa naquele instante Havia ao fundo um resto de whisky barato Fedendo ao fumo dos cigarros da esquina Sentindo o restante das pernas da menina E perguntando-se Ainda que seja Si sustenido É, talvez, tarde demais? O bar inteirou desmoronou sobre a canção Mas a nota deu seu último suspiro Um Si sustenido morrendo No chão.

Enveneno

Eu sou o veneno do poço Faça força palatal C cedilha cetim Letra trocada Pulsando para o fim O repouso frio  num banheiro de cristal Árvore que enquadra os restantes Apodrece em raíz E devolve em cinzas Queima em chama Lençol branco Encobrindo toda a cama. De joelhos matriarca pronta Perdão nossa senhora Perdão por essa dor Tudo o que toca Vapor A canção acre Amargamente cega Sombra em luz do dia Toca o ouro Vira pedra. A água que bebe do poço Cicuta enfim alquimia Minha quase existência Minha.

A Única Coisa

Abdiquei de toda a ostentação Poderia ter sido rainha das arábias Perdida em meu próprio deserto Mas não, Não desejei não. A única coisa pela qual O meu vil coração implora Vil de tanta mágoa No passado e no agora Repleto de cicatriz A única coisa  A coisa que sempre quis Foi apenas ser amada.

O Beijo

Do tédio  Ao horror da guerra Da existência ou não do céu Ou da certeza da terra A cada uma cicatriz Em forma de marca página Por teu beijo Eu anseio a cura O único toque de acalento Que em todos nós mora. Na palavra esculpida Pela eterna vaidade Ou pela cinza cujo peito inflama Tanto faz Anseio deitar-me em sua cama. É covardia pois renunciar A esta condição de incerteza? Mesmo na tristeza apreciar Que o teu beijo nutre beleza. Não é a moeda que sobra ou falta Nem o amor que felicita Ou o coração que parte em pedra Não é o alimento, a condição  Salvo de conduta É mais uma paixão Uma necessidade Deve haver poesia no amor Na flor No elevador E na cidade Não quero haver poesia Na eternidade.

Oração da Última Hora

Quando me for Se quereis orar Ore Mas não ao homem sentado no trono Nem à nuvem Ou ao céu inalcançável Não é para lá que irei Corre o risco tua palavra De seguir a rota errada Ore ao chão de terra E às flâmulas da água Ore ao calor do fogo E ao toque gentil da rara brisa Ore ao que está fadado ao fim Pois é para lá que irei Na terra sacra Nada de sacrifícios Enquanto temos o chão Exatamente sob nossos pés Ore ao pouco que fazemos Não mitificar aquilo que se foi Dar, pouco porém,   Àquilo que todo dia quase vai Jogai as cinzas ao chão Deixa que a chuva leve para junto De onde estava o pranto do homem bom. Partirei bem Nada fica para mim Partirei de vossas cabeças A todos com o martelo na mão Bate o prego no chão.

You Wheel Dream

You are not important You are not useful It doesn't matter how much you tell yourself that How much you tell you or you fellows How much you lie to yourself and pretend that there's a plan, there's a reason. Well, there's not. You are not important. How many people will you see dying and vanishing in oblivion until you realize? You're a piece, a wheel, a replaceable wheel. And do you want to know why you're replaceable? Because you allowed them to You let them make you an obedient and docile wheel A wheel spinning torwards a dream Make believe there's no sorrow Make believe there's a rainbow Somewhere over Whether you're being replaced  Discarded as garbage You will even say: thank you for everything There's no machine without a wheel There's no will without the machine We're as One One as Wheel Wheel as We We're as One They break you everyday They fix you every when You're his victim  Of a self indulgent stories The machine fairy

Você, meu irmão

Guerra de identidade procurada - Você, homem pelado! Segura aqui esta bandeira! - dizia o soldado existencialista Para o homem pelado, era um pedaço de pau e um pedaço de pano. O homem trovejava mais forte que a natureza Era um trovejo de sangue, grito, dor, choro e esquecimento A luz apagava O acampamento não silenciava, murmurava em sofrimento Era tudo uma escuridão Guerra de identidade exigida - Você, homem vestido! Segura aqui esta bandeira! - dizia o soldado idealista Para o homem vestido, era um pedaço de pau, um pedaço de pano, e uma chibata. O homem trovejava mais forte que o universo Era um trovejo de sangue, grito, individualismo e ambição A luz apagava O acampamento silenciava em suspiro e indignação Era tudo um breu Guerra de identidade edificada - Você, homem aí, toma aí, toma Bandeira de pau, de pedra, de madeira, de terra. Era um pau, uma chibata, uma obrigação. Nem Jesus e sua cruz! Quem era pra Nhadevuruçu? Você, meu irmão, qual teu nome? Caaporã.  Pai, perdão, eles nã

A Misteriosa Eterna

Passava todo dia após o pôr do sol Ao pé de uma gentil casinha Tinha o muro ao fim do pé direito, coberto de raízes e florzinhas - Que bela arquitetura jaz além desta raízes - pensava Mas só pela fresta do alto muro ver não dava De dia em dia a vida inevitável pelo mesmo trajeto me levava E sempre a vontade curiosa ia crescendo - Um dia terei altura pra atravessar, e viverei o que após ali sabendo Certa vez em uma ocasião inesperada Um fogo fedorento e uma cálida luz me circularam Ao mesmo tempo o anjo e o diabo me pegaram Criei à esquerda a asa de um e do outro à direita Vi-me etéreo atravessado pelas partículas atômicas E quando de novo pela casinha eu passei Bati as asas e pelo muro eu pulei Oh poxa, então é isso o que eu vejo? Era só uma casinha, outro muro, tão igual ao que eu deixo Do outro lado o anjo e o demônio Breve se apresentaram - Pois é meu caro, a vida é assim Abri a porta, atravessei, e nunca mais fui visto E este foi o fim

O Eremita

 Naufraguei no dilúvio da própria tragédia Era a base da forte montanha Que só água, rangido e destruição E à frente o eremita e seu capuz branco Cajado nas mãos Pernas magras tal gravetos Corpo esguio tão nutrição A trilha seguia íngreme e preguiçosa Quase no alcance do impossível Mais água, mais rangido e mais destruição E o homem de cajado na mão Moveu o dilúvio com a força do pensamento E com a força do pensamento, moveu a mão De montanha em montanha Há o dilúvio De dilúvio em dilúvio Há montanha Sorri em paz.

A Via Sacra

 Acende uma luz num domingo cinza É noite de missa Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza O cenário se alaranja Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza Já é de noite E a paróquia não conquista teu lugar Acende uma luz num domingo cinza O galo não para de cantar E que todo lamento ainda é sonho

Magia Negra

E se fossemos capaz de lhes devolver tudo o que lhes roubamos A voz A música A luz A alma O direito de ser humano Mas não posso Posso apenas ajoelhar enquanto passas Deixa-me, por favor deixa-me Deixa-me transbordar toda essa culpa Esse peso Deixa-me mostrar o que é ao menos uma vez Ser grande diante dos outros Entendo a pequenez do gesto Mas é a humilhação voluntária De que não suporta teu sofrimento Abro-te as portas para passar E deixo que todos os palcos se esvaziem Até que canses de tanto gritar Até o fim da minha existência Perdão E quando perguntam do menino O do morro? Queria que fosse vivo E é. Mas não precisa de mim Não precisa da minha licença Ou da minha permissão Isso é só voto de consciência O alarme de uma alma que sofre E se compadece Se me quiseres na batalha Lá estarei Mas sei que tens punho Força Voz Alma e Coração Peço-te apenas Por tanto que lhes roubamos Perdão Por inveja do feitiço ou da condição O tanto que nos deste A vela dessa traição Peço-te apenas de joelho

Ônix

 Vi nos olhos de um homem Que acabou de descobrir a verdade E ela dizia: Mate-me enquanto ainda há tempo Deixe meu corpo na beira da estrada E vá, sem peso na consciência. Não odiarei saber Que um dia me odiou Estarei processando a luz E o perfume das flores Enquanto vejo vermes pelo meu corpo Devorando lentamente a morte que me chega Não sobrará sombra nem luz E virá de pés descalços um menino É um ônix com um sorriso que me cega Ele correrá às voltas do cadáver E saudará meu espírito para o além Mas de joelhos pedirei perdão Com ele já me tendo perdoado. Nunca estaremos do mesmo lado.

A Cama

Eu adoro ouvir a música dos seus cabelos Algo assim em Dó menor O mais sensual dos acordes Ela entoa o som que morre nas paredes Amortecido pelos seus berros de amor E toma a nota que serpenteia pelo cômodo Caça os acidentes e extensões E que sabor Pimenta, manteiga, uma folha de manjericão As curvas hostis do seu corpo inteiro O teu corpo no espelho que te agride Mas traz ele aqui Traz que a gente descobre que é só rigidez da vontade de ser Fica em pé aqui diante Teus joelhos não vão arder enquanto cantarola A passagem em um sub cinco de um sub cinco Num ritmo de três por quatro Valsa pura, jazz moderno, samba com repique de rock n' roll. A terça roubada, do empréstimo dos modos A tua canção molhada que fica na cabeça A dança potente que enrola tua língua A garganta forte de nota sustentada Tudo por uma mera substituição O preparo Júbilo diminuto Diabolus in musica Uma terça empilhada na outra E enfim, a espera do refrão O repouso Primeira menor com a sétima A esquina A conclusão 

Moonflower

Prenda tua respiração Enquanto vejo lentamente Seu alvo e belo corpo Afundando levemente Eu soube assim que vi Olhei pelo fundo do lago À Ipomoea alba caça Mas era você ali. O pêndulo no coração Era você que o ar puxava O pulso leve se agita O repouso peito arquejava Prenda tua respiração Enquanto tua própria imagem Encara, estoica na ferida Que causou-me nesta margem À margem em vão te esperei Uma fresta de porta aberta De braço e peito amplo O choro em vão desperdicei O medo, pois, foi ele sim A ganância fútil fantasia A sedução da imagem própria Narcisa ególatra e vazia Prenda sua respiração Enquanto o verme te corrói Amor, quão diga a mente tola É um vivo sacrifício, que dói. E aquilo que em meu peito arde Muito a entrega vale a pena Todo o mais é morredoiro É o refúgio do covarde. Quem sabe do quão sério A vida o preço alto cobra Não é ideia senão escolha Quem pela dor não se desdobra. Prenda sua respiração Vista a cobertura farsa Que a boa-fé sempre desvela O que o intento não di