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Peônias após a dinastia Han

Enxofre, carvão, nitrato de potássio Badala o sino anunciando a missa Perco a missa O café amarga, azeda, queima Sem a fumaça do consolo Largo ali a xícara Que permanece por uma semana Porta entreaberta, todos os dias Espero alguém chegar Ninguém chega. Luz vai e volta sozinha O calor existe, mesmo debaixo da sombra da árvore. Ouço um choro na caverna Nesse som que bate no fundo e ressoa. Badala o sino anunciando a missa Perco a missa. Caverna escancarada, todos os dias Espero alguém chegar Ninguém chega. Bebo o café, acabou o café Largo ali a xícara Que permanece por um mês Odeio o lago da calmaria Quando se tem medo de nadar Badala o sino anunciando a missa Perco a missa Mar aberto, escancarado, agitado, calmo, todos os dias. Espero alguém chegar Ninguém chega. Badala o sino anunciando a missa Ninguém chega. Enxofre, carvão, nitrato de potássio. Pedaços de porcelana ao chão. Ninguém chega, todos se vão.

Soma numa conversa com Aldous Huxley

Na festa em que todo mundo vai, Permanecer É a melhor forma de protesto Célebre como ponto radiante Irradia tudo De luz fresca ao negro véu cortante O que importa é o que importa O que não vale é o que não vale O que não quer, joga-se fora Nenhum resto é fora de moda Pedintes de vida também precisam de vida. Não há nada mais irresistível do que um pedinte onde tudo sobra Do que um choro convulsivo onde tudo é sombra Da verdade onde tudo é cobra. Nesta era em que o sorrir é quase uma tortura Chorar pelo direito ao mal-estar Parece ser a única forma de cura Naquela hora em que é quase obrigatório o riso do palhaço Fazer o caos sem explicação é o maior alívio Da covardia senil, falsa, em estardalhaço.

A Internet aproxima as pessoas? Ou um desabafo de uma pessoa que não aguenta mais de tanta solidão.

Eu sou um grande crítico de iniciar postagens com interrogações, porque isso passa a impressão de que eu não tenho certeza do que estou dizendo, mas para o caso a seguir, isso faz jus ao que eu quero dizer. Não tem jeito, mas nós, jovens dos anos 80 e 90, que passamos boa parte de nossas vidas sem ter noção de que era possível um futuro em que as relações humanas interagiriam por intermédio de computadores, é difícil ainda aceitar um fato: vivemos a era online e isso não vai deixar de ser parte do cotidiano humano tão cedo. E por anos a fio eu tenho escutado a premissa do porquê a internet é algo positivo para nós: ela aproxima as pessoas. Mais especificamente, as redes sociais, e-mails, canais de streaming, tudo nos dá a ilusão de que o nosso amigo que mora em outro continente está logo ali do nosso lado. Agora vamos falar um pouco sobre o que é estar perto. Estar perto no que diz respeito a termos acessos a fotografias selecionadas ou pensamentos recortados de um dia

Dez de Setembro

Amarelo Porém preto constante Trem em movimento Ponte elevada Cicuta Som de disparo Tanta gente querendo E você sem querer Mas sem querer eu não quis Enquanto quis Ninguém queria Engraçadas estas coisas Ninguém aplaude quando a moça dança Ninguém se cala quando a moça sofre Ninguém ajuda quando a moça morre Num Domingo qualquer A missa do sétimo dia vai ser Mas vai ser pra expiar os erros Enquanto isso, enquanto quer A gente namora na praça Ninguém se lembra mais Amanhã nasce um outro sol Que será o mesmo em nome do Pai.

Meu caso com Anna O.

Hoje, nesta tarde fria e nublada Estarei te esperando, de coração, Levando-te para todos os vazios Pelas quais minha mente passeia Depois da meia noite Estarei só, ainda aguardando Antes de que a gota caia surda Deixa-me saber que tentou. Leve-me daqui até onde der Infinito, belo ou impossível Faça-me apenas sentir livre Enquanto olho pro inalcançável horizonte.

A valsa de máscaras de Bethlem Royal

Leve e irrequieta a noite vai chegando E sei que contigo ela o traz em seu encalço Um misto de inquietude intensa me desmancha Tuas garras, mãos delicadas acercam-me fortuitas Perco-me só, isolada, não sei o que faço Esgueiro-me furtiva, finjo estar falando, estou quieta. Fecho os olhos, acalmo-me, sei que estás me olhando Pego um copo, outro copo, outro copo, outro corpo Sorrio em nervosismo, morro em silêncio, afundando. Levanto-me, deito-me, sento-me, levanto-me Um outro copo, um outro corpo, o coração palpita O pensamento, túrbito, se escancara enquanto eu quase... Tu chegas, suave, sorri e não me aguarda Segura-me nas mãos, eu me levo, indefesa E quando menos quero, estás em mim Estás em minha vida, em meu corpo, em minha roupa Estás em minha cama, estás na minha gente, sem licença E tudo o que de mim conheço, não dura mais que um beijo E este beijo, ele é frio, deixa-me a sofrer E de mim sei, não te preciso, mas estás aqui, um vício Observa-me enquanto t

Vamos falar sobre o feminismo

Vamos falar de feminismo. Sempre que me perguntam sobre o feminismo, eu digo que não consigo ver coerência em um homem ser feminista. Feminismo é uma luta da mulher, é uma busca pelos direitos igualitários em relação ao homem, dentro de uma sociedade em que homens prevaleceram por séculos. O máximo que posso fazer é dar o meu apoio. Eu percebo que a minha sociedade brasileira tem uma inteligência social muito limitada no que diz respeito às questões de relação com outros grupos, uma vez que preciso ver oposições falaciosas para desaprovar e injustificar lutas sociais como feminismo (mas e quando a mulher chama o homem de gostoso?) e racismo (se um negro me chamar de boneco de neve, isso não é racismo?). Tal postura é covarde, ignorante e falaciosa. Feminismo e Consciência Negra não existem para contrapor a predominância e tomar o lugar do Machismo e do Racismo, mas sim para acabar com isso de uma vez por todas. Agora como o machismo é prejudicial até mesmo para os homens?

A Triste História de Dali Salvador

A Triste História de Dali Salvador Essa é a história de um pintor triste Vindo de um reino distante, seu nome é Dali Salvador, É, porque ele ainda existe, e tão triste é sua história Que a cidade definhou, sem um pingo de memória. Dali Salvador, pintor artista de mão cheia Sabia de todas as técnicas da época Pintor de bons santos e santas ceias. Paladino da alegria e da ternura Um relance em um quadro seu Era uma benção e alegria que perdura. Mas como toda vida o sossego estranha para Salvador algo lhe faltou Uma donzela que não só o seu olhar Mas seu coração ingênuo roubou "Oh musas, que tanto me deram" clamou "Daria tudo por uma última pintura Mas que pudesse conquistar tamanha candura" O clamor foi tão sincero e tão honesto Que um trovão num dia quente ecoou Assustado, Dali saltou, do momento funesto "Dali Salvador, nobre criatura" disse a musa "Estava ali ocupada com meus afazeres eternos Como n

Reforma

A lâmpada pisca acima, são seus sinais de sobrevida Quase não a noto, quase não percebo Há muito ruído lá fora Muita responsabilidade que ficou por ser cuidada Muita louça na pia por ser lavada Muita roupa suja por ser lavada Na última canção do violão uma nota ficou vaga Sobrou no ar, perdeu-se no espaço Quase não se pode escutar o que ela soa Talvez um branco gelo na parede para encobrir esse encardido E depois pegar a mochila, sair por aí Ver o mar ou as montanhas Andar errante, pro lugar desconhecido Ou tentar, quem sabe, preencher o espaço vazio de tudo. Não se cabe em si tanto quanto lhe falta A lâmpada enfim morre e só sobra escuro Sobra tanto que se esparrama pelos braços e cabelos E os cabelos, esses cabelos sujos, sem comportamento Bate-se uma porta tão forte na casa ao lado Assusto-me mais com a porta do que com os gritos Mas tudo bem, mistura-se aos gritos da galera A galera da rua que grita pra não ser desgraça Esses gritos de felicidade incauta p

Vaso

Este alvo trabalho em lama branca E um sopro de Deus que deste vida Deste vida e nada mais Podias ser  um vaso  de jardins ornamentais Mas és oco, e só. Posto indiferente em um  corredor pouco  circulado Quantas vezes passarão  por ti Para verem que és  um  Vaso quebrado?