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A Internet aproxima as pessoas? Ou um desabafo de uma pessoa que não aguenta mais de tanta solidão.

Eu sou um grande crítico de iniciar postagens com interrogações, porque isso passa a impressão de que eu não tenho certeza do que estou dizendo, mas para o caso a seguir, isso faz jus ao que eu quero dizer.

Não tem jeito, mas nós, jovens dos anos 80 e 90, que passamos boa parte de nossas vidas sem ter noção de que era possível um futuro em que as relações humanas interagiriam por intermédio de computadores, é difícil ainda aceitar um fato: vivemos a era online e isso não vai deixar de ser parte do cotidiano humano tão cedo.

E por anos a fio eu tenho escutado a premissa do porquê a internet é algo positivo para nós: ela aproxima as pessoas. Mais especificamente, as redes sociais, e-mails, canais de streaming, tudo nos dá a ilusão de que o nosso amigo que mora em outro continente está logo ali do nosso lado.

Agora vamos falar um pouco sobre o que é estar perto.

Estar perto no que diz respeito a termos acessos a fotografias selecionadas ou pensamentos recortados de um dia a dia entediante de nossos contatos? Ou quando temos a vantagem de estar em contato com gente de outras partes do nosso círculo social?

Mas o que eu ando percebendo é que isso é só mais uma das grandes mentiras que contamos a nós mesmos para não encararmos a realidade de que estamos vivendo uma realidade de merda. Não há como ter um diálogo rico e inventivo através de um site, uma vez que por mais disposto que se pareça, existe uma preguiça muito grande em se desenvolver uma conversa, a menos que haja um interesse muito intenso por trás dela, afim de que todas as conversas não passem de diálogos pobres e monossilábicos. As pessoas tornam-se fortalezas inacessíveis em que o máximo que conseguimos delas é o que elas estão fazendo naquele momento. Essa proximidade é falsa.

Como se não bastasse, combinando de encontrar essa pessoa, e vivê-la em caráter tempo real, não conseguimos extrair dela nada mais do que impressões superficiais do momento presente. Não se sabe mais a data de aniversário, a cor preferida, o nome dos pais e dos irmãos, essas coisas.

Eu venho sentindo esse incômodo de tentar me aproximar de pessoas inaproximáveis, que se fecham em suas preguiças de tentar mostrar um pouco mais de si mesmas. É triste, é a plastificação das relações humanas. Ou de repente é a mais pura hipocrisia e falsidade que permeia a vida adulta, que para mim não passa de um jogo de egos obceno e hostil.

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