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Fenômeno Júlia

Eu aceito você na minha vida Sendo apenas estrela cadente Um raro fenômeno Pra vida inteira ficar contente Cabelos enroladinhos De cores adocicadas Rostinho de porcelana E lábios de poeta Disseram que você chora antes de dormir Mas a lágrima que você derrama É um botão de rosa dourada que vai surgir Como seus cabelos Enroladinhos Fizeram você como se faz o inesquecível Tem muito universo se pra explorar No meu coração, só saudade Tem sol nascente amanhã de manhã E som de rio Mas não é o mesmo som Nem o mesmo o Rio Nem a mesma Júlia Só a mesma saudade.

A Cama

Eu adoro ouvir a música dos seus cabelos Algo assim em Dó menor O mais sensual dos acordes Ela entoa o som que morre nas paredes Amortecido pelos seus berros de amor E toma a nota que serpenteia pelo cômodo Caça os acidentes e extensões E que sabor Pimenta, manteiga, uma folha de manjericão As curvas hostis do seu corpo inteiro O teu corpo no espelho que te agride Mas traz ele aqui Traz que a gente descobre que é só rigidez da vontade de ser Fica em pé aqui diante Teus joelhos não vão arder enquanto cantarola A passagem em um sub cinco de um sub cinco Num ritmo de três por quatro Valsa pura, jazz moderno, samba com repique de rock n' roll. A terça roubada, do empréstimo dos modos A tua canção molhada que fica na cabeça A dança potente que enrola tua língua A garganta forte de nota sustentada Tudo por uma mera substituição O preparo Júbilo diminuto Diabolus in musica Uma terça empilhada na outra E enfim, a espera do refrão O repouso Primeira menor com a sétima A esquina A conclusão 

Moonflower

Prenda tua respiração Enquanto vejo lentamente Seu alvo e belo corpo Afundando levemente Eu soube assim que vi Olhei pelo fundo do lago À Ipomoea alba caça Mas era você ali. O pêndulo no coração Era você que o ar puxava O pulso leve se agita O repouso peito arquejava Prenda tua respiração Enquanto tua própria imagem Encara, estoica na ferida Que causou-me nesta margem À margem em vão te esperei Uma fresta de porta aberta De braço e peito amplo O choro em vão desperdicei O medo, pois, foi ele sim A ganância fútil fantasia A sedução da imagem própria Narcisa ególatra e vazia Prenda sua respiração Enquanto o verme te corrói Amor, quão diga a mente tola É um vivo sacrifício, que dói. E aquilo que em meu peito arde Muito a entrega vale a pena Todo o mais é morredoiro É o refúgio do covarde. Quem sabe do quão sério A vida o preço alto cobra Não é ideia senão escolha Quem pela dor não se desdobra. Prenda sua respiração Vista a cobertura farsa Que a boa-fé sempre desvela O que o intento não di

Explorando o universo narcisista

Você pode se transformar em uma vítima o quanto quiser, metamorfoseando o mundo inteiro no seu inimigo (como se todos nós tivéssemos esse tempo livre na vida). Nós sabemos o quanto de responsabilidade você carrega e finge que não é com você. Eu te ouço gritar na rua com aquela pessoa, depois que acabou de deixar o seu saco de merda no chão. Chama a atenção, ei, você aí, esse saco de merda aqui acabou de cair da sua mão. Mas é lá que você larga, e o fedor acaba recaindo na culpa de quem está mais perto. E na multidão, como um rato imundo, você aponta seu dedo repleto das lágrimas alheias e diz "foi ele". Você chama quem estiver por perto como testemunha, que pela sedução desse maldito veneno, concorda, eu também vi, foi ele. E assim a mentira se fortalece, e mais uma pessoa se destrói nessa narrativa fraudulenta, a história sofre com mais um capítulo distorcido, e quem deveria sentir o peso do julgamento coletivo sai impune. A biologia, porém, é maravilhosa. A natureza é marav

Misericórdia

Já estive tão absolutamente pleno de amor por tantas vezes na minha vida. Eu escrevo muito sobre amor, sobre solidão, sobre o sofrimento que é o abismo entre os dois terrenos, e sobre o marasmo que é a ponte que os conecta. Por quanto tempo trafeguei por estes caminhos? Eu uso o amor como o refúgio pra esse mundo caótico? De que adianta escrever sobre o óbvio? O egoísmo e a mesquinharia de quem está no poder, que não é diferente do que a mesquinharia e a ganância de quem já esteve no poder antes. A arrogância de fazer de si mesmo a licitude em forma de pessoa, com as mãos abertas espalhando as migalhas da misericórdia. E se não fosse o amor, e a capacidade de amar, de saber que ao menos alguma coisa somos capaz de preservar em sua forma original, ou ao menos, de fazer bem, não teria já enlouquecido? Não seriam os criminosos mais sórdidos aqueles que sofreram a vida inteira da ausência do amor verdadeiro? Ou será que me engano sobre mim? Será que em mim eu sou apenas aquele que se conve

The Song for the Rising Falcon

As soon as early you've spread your mighty wings And passionately you set the world on fire Your pointy feathers like a reliquary Let us all alone in this unspeakable ol'pyre. And as the widely opening of your eyes You carry your deeds inside yer big heart And flying through the fences of the wise You let us all in sadness, you depart. Though shine beyond where we not understand Behind will stay the angels that you've raised Those smiles, those myriad happy lands In memory of your love, you're honored, you're praised. ---------------------------------- In the loving memory of a person that was too passionate and too young to leave everyone behind. May your soul or spirit find peace. May your friends find comfort in the happy memories they have of you.

Nihilumbra

Ainda vivo pelo ódio Que eu sinto de você Porque esta vida é uma mentira Mas você é ainda mais. Cada vez que eu te vejo Uma parte de mim morre Já morreram tantas partes Que o que sobra é uma penumbra Nihilumbra amores vãos Não existe mais pulsar Nem pelo nobre sentir Do pobre coração O que sinto é a derradeira sede Temo saciar com um último gole E o que restar é só vazio Tédio e vazio Como queria que com trovejar Caísse em mim e me dividisse Com o raio da renovação. E nada mais temo. Não temo deitar em vã espera Tal a morfina da névoa da manhã Recita em silvos o sacrilégio Dos sussuros da aurora É só o crepúsculo das horas A falta de fome na fartura E o nado urgente em mar raso O vôo em salto de colchão Segue em corpo são Mas em espírito tardio Como se a tudo visse E a tudo cheirasse Já nem há mais o ódio A mágoa cavada em estaca A ressaca da conviva inesperada Ou mesmo a depressão O que há é pior que o morrer Em retrasada musculatura De esganar-se nas próprias mãos. O que há é ar sem

Insistência

Assim como o aleijado aprende A conviver sem o seu pé Consegui entender os caminhos Que exortam a minha fé Mesmo sem o seu mestre,  Descobre-se o aprendiz. Aprendi também a viver Sem o vício de ser feliz Na leitosa abóbada do cosmos Do ululo voo circulante Entendi que para ser-se vivo Vive-se em vacilo constante Igual ao ganancioso ardil Que a tudo rouba com a mão Arranquei de dentro de mim Os ócios vis do meu coração.

Senciente

Não há obstáculo entre o abismo e a luz Da necessidade de bater paus Ao infinito universo observável. Não há, porém, remédio ou consciência Que cure este abismo. Entre o vasto sentir E o animal racional Desobediente.

Lua Verde

Do vazio vem Ao vazio vai E o som silente de tudo o que se forma É o assobio do sábio alado O som chiante da espuma sob os pés cansados do viajante Ele marca atrás de si Suas pegadas na areia vacilante Mas seu peito não Seu peito é um universo flamejante Do vazio vem No seu invólucro preenche Com a luz que pode absorver Ao vazio vai Virar uma estrela cadente. Cortando o mistério do espaço Calando-se em cada néctar do tempo. A primeira palavra do universo Esta que esquecemos de dizer Razão do quanto esquecidos somos Sorve como a gota do deus da Lótus Quando em piedade, chorou E chorou até que os duros chãos do deserto Se fizessem florir com a riqueza de um mundo Que hoje fingimos conhecer. Palavras são tão leves como o ar. Só existem quando nos lembramos De que o ar precisamos respirar. Do vazio eu venho Ao vazio eu vou E no meio de tudo Apenas um vazio que sou. No céu em busca de conforto Avisto apenas uma lua verde.