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Moralismo Cirandeiro

Tenho uma aptidão para a polêmica, confesso. É uma forma de chamar a atenção para mim, eu sinto um deleite silencioso ao ver o circo pegando fogo e as pessoas perdendo o juízo. Pode ser uma defesa, porque, bem, eu não gosto de ninguém, o que é diferente de odiar. É bom deixar isso claro: o ódio é quase como o amor, porque o ódio tem uma parcela de você se importar com o que os outros pensam. Não é o meu caso, eu não odeio ninguém (aliás, estou repassando mentalmente se eu li já escrevi isso em algum lugar aqui, e se por acaso escrevi, mudei de opinião, não é ódio, é só um desgosto mesmo). Eu não gosto de ninguém porque bem, tudo me entedia com muita rapidez, e por isso às vezes eu preciso adereçar provocações ao que muita gente acredita ser importante pra sobrevivência delas. Certa vez estávamos em uma conversa com universitários, o Matheus e eu. O assunto era um rapaz de cabelos longos e coloridos, e ele falando de suas experiências no Japão, e eu juro que ainda não conheci uma única

Confissão de uma derrota

Vendam minha desgraça Que fique o vencedor com as migalhas O restante de uma memória Em que até o desastre perdeu cor Perdi há muito sede e a fome, Perdi faz tempo a distinção Entre a miragem e o oásis. Aos que crêem me perdoem Foi tudo fingimento e tentativa Quis vencer as horas mortas E quão mortas foram as horas! E quantas foram elas, as horas! Mas e se houvesse um pouco mais Um minuto a mais de aguardo Uma nesga de vontade Por um fenômeno milagroso? Só mais un dia, uma chance. Brincam de felicidade, os deuses O alívio é a aposta mais alta Todos perdemos com as cartas na mão.

Metanoia

Que há neste recinto de solidão? O passar das horas percebido  Movimento das folhas no chão Ou a vista decadente  Resiste à espera, cidadão. Há tempos que não sei o que é ser E eis-me aqui, sendo. Ou quem sente o quente e frio Cadilho de nervosas reações Dos cheiros que ardem-me o pulmão Vivo a questão do quanto vivo. O que é então? Este silêncio ululante, Ao pé do ouvido? Seria esta a resposta então? Viver é constante negação! Não, não Não há como ter plena solução É tangente a ponto de interrogação. Como posso, nesse confim de esquecimento Querer dar a solução do que há muitos Buscam com o mesmo ardor? Mas tenho eu o mesmo ardor? Não tenho o mesmo ardor Quanto a mim pergunto qual mal me levará: O infarto Dos que vivem com paixão O câncer A quem a vida parasita Ou o tédio Contrição do nascimento?

Eu Nunca Estive Aqui de Verdade

O trilho do trem e o tilintar Arrepia-me tal completamente Com seu ácido canto sedutor Atiro-me às presas da serpente O trilho do trem e o seu trajeto A múltipla curva repentina Seu sussurro ensurdecedor Condiz-me a silente divina O trilho do trem e seu caminho Infinitamente serpenteia Magnético meus olhos atrai Mergulho no canto da sereia O trilho do trem e a parada O coração oco, lar de todo o mal Mil mundos que no peito anseia Chegar-me, eu rogo, à estação final.

Si Sustenido

E foi assim que essa nota escapou Errada pois, diria o maestro Mas ficou lá, pendente no ar O público aplaudiu, levantou-se e saiu A banda juntou o equipamento E a nota, mesmo só, não partiu. Pendeu adiante, e ficou presa naquele instante Havia ao fundo um resto de whisky barato Fedendo ao fumo dos cigarros da esquina Sentindo o restante das pernas da menina E perguntando-se Ainda que seja Si sustenido É, talvez, tarde demais? O bar inteirou desmoronou sobre a canção Mas a nota deu seu último suspiro Um Si sustenido morrendo No chão.

Enveneno

Eu sou o veneno do poço Faça força palatal C cedilha cetim Letra trocada Pulsando para o fim O repouso frio  num banheiro de cristal Árvore que enquadra os restantes Apodrece em raíz E devolve em cinzas Queima em chama Lençol branco Encobrindo toda a cama. De joelhos matriarca pronta Perdão nossa senhora Perdão por essa dor Tudo o que toca Vapor A canção acre Amargamente cega Sombra em luz do dia Toca o ouro Vira pedra. A água que bebe do poço Cicuta enfim alquimia Minha quase existência Minha.

O Animal que cura as dores

Era uma vez um animal gigante voador, cujas asas eram tão belas e resplandecentes, maravilhosa e mágicas, que apenas um abraço curaria todas as dores e tristezas. Certa vez o animal foi chamado para um reino a fim de curar as mágoas de toda a nação. Mas o rei, ganancioso pelo poder do maravilhoso animal, ordenou que ele fosse capturado para ser estudado, e quem sabe, aprender o seu poder.  Quando o animal chegou no reino, ao invés de ser recebido com alegria e presentes, como era de costume, ele foi recebido por lanças e flechas. Um menino órfão que estava ansioso esperando pelo animal, e era encantado pelo animal, se jogou na frente das flechas e lanças, mas por ser muito pequeno, não conseguiu salvá-lo. O menino chorou a noite inteira, a ponto de manter todos da cidade acordados. Após horas chorando, o menino se cansou e finalmente conseguiu dormir. Naquela noite ele teve um sonho com o animal, e implorou para que voltasse à vida para que pudessem brincar, para que o animal pudesse c

A Única Coisa

Abdiquei de toda a ostentação Poderia ter sido rainha das arábias Perdida em meu próprio deserto Mas não, Não desejei não. A única coisa pela qual O meu vil coração implora Vil de tanta mágoa No passado e no agora Repleto de cicatriz A única coisa  A coisa que sempre quis Foi apenas ser amada.

Em Defesa do Mundo da Lua

Ele vive no mundo da lua! Ele é sonso! Esse aí vive olhando pro nada com a boca aberta. São estas as frases que eu mais escutei quando era criança.  Estava fazendo uma observação de aula pro meu curso do CELTA. A aula aconteceu numa turma da Espanha, entre crianças de 9 anos de idade, e o objetivo era apontar características do comportamento das crianças durante um aula, analisando os aspectos como Energia, Motivação, Concentração, Criatividade, etc. Eu pude ver crianças levantando da cadeira, crianças se apoiando sobre a carteira, crianças que mexiam as mãos ansiosas, crianças que pareciam que tinham uma energia tão intensa presa, que estavam a ponto de explodir... instantaneamente eu fiz uma conexão com a criança que eu fui. Eu posso estar enganado na minha análise, mas se eu pudesse ver de longe, eu diria que eu era uma criança retraída e que continha um universo imaginário preso dentro de si. Mas eu me lembro ser uma criança que imaginava tudo. Eu não consigo pensar hoje numa crian

Felipe Neto e a Literatura Brasileira, Júlio Cociello e o Racismo: A Jornada do Coitado

 O Youtuber, de modo geral, é a representação máxima daquilo que eu posso chamar de "o último prego no caixão da Educação Pública". Nosso país nunca reconheceu a necessidade de se aplicar políticas educacionais eficientes, a começar pelo principal, que é responder a pergunta que todo aluno já fez a si mesmo ou aos professores: pra que eu preciso aprender isso na vida? Eu vivo num país que é majoritariamente pobre, desorganizado e tem uma relação inescrupulosa, imoral e questionável com o dinheiro, o poder e a religião. E por mais que eu odeie o uso do termo, o topo da hierarquia, aqueles que estão nas esferas do poder, não se preocupam com a imagem que eles transmitem para as demais camadas sociais. Os ricos e poderosos do Brasil não se restringem a esfregar na cara de todos os brasileiros a sua vida de luxos e pertencimentos. É um terreno fértil para o surgimento de mitos e ilusões. Ilusões tais como a ilusão da riqueza, do dinheiro, do ter poder de compra e consumo. Ilusão