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No canto mais escuro da casa A câmara menos visitada O acúmulo das poeiras e dos tecidos antepassados Lá está Debaixo das histórias sobre os heróis da ditadura E dos profetas do bom Cristão Um espírito Refletido por velhos espelhos Atravessado por um ar pestilento Um pai e uma mãe de costas Suas mãos pesadas marcam a história num grito E se houver uma pequena possibilidade Ouvirá um som distante de um sonho que vai morrendo Meu sonho

Paulo Freire, o inimigo do Brasil

Estive pensando sobre Paulo Freire. Quando um homem usa sua inteligência para ajudar aos outros ele é chamado de criminoso, como Paulo Freire é chamado. Agora quando um homem usa seus esforços para enriquecer, mesmo que às custas da saúde física e mental de milhares de outras pessoas, ele é chamado de gênio. Estes seriam steve jobs, bill gates, elon musk e jeff bezos. Aqui no Brasil temos os nossos: luciano hang, eduardo saverin, jorge lemann, marcel hermann telles. Estes são os donos do país. Não existe nada mais obsceno na sociedade moderna do que a existência de bilionários. Estas pessoas estão acima das regras e acima das leis. Como sociedade queremos acreditar que existe ética em seus comportamentos, mas não existe. Nossa sociedade falhou nesse aspecto. Um bilionário só pagaria pelos seus próprios crimes se um dia atentasse contra o próprio sistema que o enriqueceu, e implacável, o sistema o destruiria. Luciano Hang na CPI da Covid foi uma demonstração disso. A CPI tem sido um ver

A Série Fundação na Apple TV - Uma hipócrita ironia

Senti muito receio quando vi que a Apple TV está para anunciar o lançamento da série Fundação de Isac Asimov. Não é coerente que uma empresa que atua com base no trabalho de exploração e quase escravidão se atreva a produzir um projeto com a obra de Isac Asimov, que muito provavelmente condenaria as práticas de negócios da Apple. É incoerente, pra não dizer hipócrita. Sempre fico extremamente incomodado com a insistência das emissoras de produzirem séries contando a história de clássicos da literatura, porque isso dá mais endosso para a preguiça de ler. Os livros provavelmente serão comprados para serem deixados como peça decorativa ou souvenirs, sem nunca serem abertos. É presunção, sei, mas conheço quem faz isso. Fundação foi a série que me ajudou a quebrar para sempre meu preconceito com a ficção científica. Quando comecei a ler de verdade, aos 17 anos, era muito seletivo, pois só lia os clássicos, e no mais, os clássicos da literatura brasileira. Só aos 20 anos comecei a abrir um p

7 de Setembro, 4 Anos Atrás

Duplipensar é um clichê da literatura, mas um clichê inquietante e traiçoeiro. Testa nossos limites e nos culpa pela condição de vítima. Duplipensar é revisar a linguagem. Revisar a história abre a possibilidade para novas interpretações dos fatos, mas revisar a linguagem nos torna imunes às sensibilidades. A traição física é uma coisa pífia, porque para mim, ela é a medida do nosso amor próprio, e feliz é daquele que dela se desfaz tão rápido, porque permite atingir uma compreensão da dimensão da relação humana. A traição física só atinge aos que, tristemente, ainda acreditam na própria fragilidade. Eu lamento por estas pessoas que se agarram com desespero à barca que carrega as promessas de uma vida sem dor. A traição física é a dissolução do orgulho, como pó, e que uma vez sentida, dói, obviamente, mas passa. Mas a pior traição a meu ver é a da fé, mais difícil de suportar, e causa maior instabilidade quanto ao futuro. Causa danos sobre o ser, e por um instante, rompe com nossa perc

Teachers - Masters of Mistakes

I don't quite fancy the idea that a teacher should resemble the character aspects of a martyr, for the same reasons that doctors shouldn't be accountable as gods or scientists as flawless brainiacs. These mythological and fantastical labels that are often stick on some professionals bring more harm to the efficiency of the job than the belief that is part of praise and encouragement. It means that idealizing these professionals has close ties to dehumanizing them. When a professional is dehumanized, society doesn't seem to take their responsibility seriously, a responsibility that the professionals warn us all the time. Meaning that a god-like doctor is one who cures all diseases, instead of a society that is more concerned with their personal health care. A know-it-all scientist is one who carries all the answers instead of a community more engaged to create, question and produce more knowledge. Such as a teacher that is seen as a martyr, hence, it is the person who makes

A romantização da miséria na mentalidade liberal

Enquanto a esquerda que se deu bem na vida e foi cooptada pelo podre sistema passa os dias impondo como as pessoas devem se portar moralmente, vemos no outro lado, o liberalismo econômico invadindo e sugando os recursos dos países que tem a estrutura social fragilizada para combater o roubo. Todo liberal condena a estatização. Mas eu nunca vi um liberal condenando a pobreza com a mesma força. O liberal parece condenar mais o pobre do que a pobreza em si. Porque o pobre representa o fracasso de uma das principais muletas do liberalismo, que é o empreendedorismo individual. Num país que tem suas riquezas roubadas diante dos nossos olhos, desde sabe-se lá qual década, vendem a nós a narrativa de soluções imediatistas. Então o homem que passa a vender água no farol já não é um trabalhador que está na linha do desemprego. Ele é retirado desse número, e as fatias e porcentagens que poderiam queimar o filme de um governo sem planejamento já não se tornam mais o problema. A solução chega a par

Numa Quarta-Feira fria em que Nada Acontece

Imagino um mundo onde não há dor Que não tenha som, nem cara nem cor Esse mundo que se embarca com um laço Um portal que se abre igual ferida Um barulho de explosão em minha cabeça Solidão sem necessidade de abraço Um mundo onde não há corpo Ou ele vira cinza, ou ele vira pasto Um mundo que não é impossível Atravessa em embarcação escura Vence-se o medo do umbral Onde a paz é plena, e dura.

Evocação do Nada

Na Rua Oliveira Não há nada a evocar Mãe! - gritava eu Oi - gritava ela Cadê meu tênis de brincar? Vê debaixo da cama Vê na lavanderia Vê lá no quintal Não estava em nenhum lugar Nunca esteve Nunca houve tênis Ou talvez não sirva lembrar Tudo o que eu mais amava Jamais pode existir Recordação imposta Difusa e enlatada Recordação do nada Cortinas de linho Tapete de algodão Terreno baldio O pau e bola na mão Terreno baldio Como as lembranças Do que se acabou pela metade Correram por aí dizendo Diretas Diretas Diretas De retas e caminhos que jamais passaram por aqui Mas bajulamos o abandono e o esquecimento O seu fulano (todos eles eram) que sorria sem a parte da perna Tudo aqui parecia feito pela metade Seu Cirilo não tem perna Seu Fábio perdeu o braço na máquina O Alemão que batia na mulher A gente só ria Não existe raciocínio na tragédia Aqui nunca chegou mensagem, história, ciência ou explicação Mas todo biênio é eleição Aqui tudo é conclusão No mês de outubro Dona Maria e seus dez ca

Laço Amarelo

Arco do rebento O raio do Astro A trompa do anúncio Do Rei do perdão Encontra a menina De pauper pezinhos Lacinho amarelo Em levitação O Rei que outra vez Verteu água em vinho O vinho é sangue O sangue é um pãozinho Caminha sobre águas Da dor do rebento Verto água meu vinho Salvação sangrenta

Moralismo Cirandeiro

Tenho uma aptidão para a polêmica, confesso. É uma forma de chamar a atenção para mim, eu sinto um deleite silencioso ao ver o circo pegando fogo e as pessoas perdendo o juízo. Pode ser uma defesa, porque, bem, eu não gosto de ninguém, o que é diferente de odiar. É bom deixar isso claro: o ódio é quase como o amor, porque o ódio tem uma parcela de você se importar com o que os outros pensam. Não é o meu caso, eu não odeio ninguém (aliás, estou repassando mentalmente se eu li já escrevi isso em algum lugar aqui, e se por acaso escrevi, mudei de opinião, não é ódio, é só um desgosto mesmo). Eu não gosto de ninguém porque bem, tudo me entedia com muita rapidez, e por isso às vezes eu preciso adereçar provocações ao que muita gente acredita ser importante pra sobrevivência delas. Certa vez estávamos em uma conversa com universitários, o Matheus e eu. O assunto era um rapaz de cabelos longos e coloridos, e ele falando de suas experiências no Japão, e eu juro que ainda não conheci uma única