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Postagens

A Internet aproxima as pessoas? Ou um desabafo de uma pessoa que não aguenta mais de tanta solidão.

Eu sou um grande crítico de iniciar postagens com interrogações, porque isso passa a impressão de que eu não tenho certeza do que estou dizendo, mas para o caso a seguir, isso faz jus ao que eu quero dizer. Não tem jeito, mas nós, jovens dos anos 80 e 90, que passamos boa parte de nossas vidas sem ter noção de que era possível um futuro em que as relações humanas interagiriam por intermédio de computadores, é difícil ainda aceitar um fato: vivemos a era online e isso não vai deixar de ser parte do cotidiano humano tão cedo. E por anos a fio eu tenho escutado a premissa do porquê a internet é algo positivo para nós: ela aproxima as pessoas. Mais especificamente, as redes sociais, e-mails, canais de streaming, tudo nos dá a ilusão de que o nosso amigo que mora em outro continente está logo ali do nosso lado. Agora vamos falar um pouco sobre o que é estar perto. Estar perto no que diz respeito a termos acessos a fotografias selecionadas ou pensamentos recortados de um dia

Dez de Setembro

Amarelo Porém preto constante Trem em movimento Ponte elevada Cicuta Som de disparo Tanta gente querendo E você sem querer Mas sem querer eu não quis Enquanto quis Ninguém queria Engraçadas estas coisas Ninguém aplaude quando a moça dança Ninguém se cala quando a moça sofre Ninguém ajuda quando a moça morre Num Domingo qualquer A missa do sétimo dia vai ser Mas vai ser pra expiar os erros Enquanto isso, enquanto quer A gente namora na praça Ninguém se lembra mais Amanhã nasce um outro sol Que será o mesmo em nome do Pai.

Meu caso com Anna O.

Hoje, nesta tarde fria e nublada Estarei te esperando, de coração, Levando-te para todos os vazios Pelas quais minha mente passeia Depois da meia noite Estarei só, ainda aguardando Antes de que a gota caia surda Deixa-me saber que tentou. Leve-me daqui até onde der Infinito, belo ou impossível Faça-me apenas sentir livre Enquanto olho pro inalcançável horizonte.

A valsa de máscaras de Bethlem Royal

Leve e irrequieta a noite vai chegando E sei que contigo ela o traz em seu encalço Um misto de inquietude intensa me desmancha Tuas garras, mãos delicadas acercam-me fortuitas Perco-me só, isolada, não sei o que faço Esgueiro-me furtiva, finjo estar falando, estou quieta. Fecho os olhos, acalmo-me, sei que estás me olhando Pego um copo, outro copo, outro copo, outro corpo Sorrio em nervosismo, morro em silêncio, afundando. Levanto-me, deito-me, sento-me, levanto-me Um outro copo, um outro corpo, o coração palpita O pensamento, túrbito, se escancara enquanto eu quase... Tu chegas, suave, sorri e não me aguarda Segura-me nas mãos, eu me levo, indefesa E quando menos quero, estás em mim Estás em minha vida, em meu corpo, em minha roupa Estás em minha cama, estás na minha gente, sem licença E tudo o que de mim conheço, não dura mais que um beijo E este beijo, ele é frio, deixa-me a sofrer E de mim sei, não te preciso, mas estás aqui, um vício Observa-me enquanto t

Vamos falar sobre o feminismo

Vamos falar de feminismo. Sempre que me perguntam sobre o feminismo, eu digo que não consigo ver coerência em um homem ser feminista. Feminismo é uma luta da mulher, é uma busca pelos direitos igualitários em relação ao homem, dentro de uma sociedade em que homens prevaleceram por séculos. O máximo que posso fazer é dar o meu apoio. Eu percebo que a minha sociedade brasileira tem uma inteligência social muito limitada no que diz respeito às questões de relação com outros grupos, uma vez que preciso ver oposições falaciosas para desaprovar e injustificar lutas sociais como feminismo (mas e quando a mulher chama o homem de gostoso?) e racismo (se um negro me chamar de boneco de neve, isso não é racismo?). Tal postura é covarde, ignorante e falaciosa. Feminismo e Consciência Negra não existem para contrapor a predominância e tomar o lugar do Machismo e do Racismo, mas sim para acabar com isso de uma vez por todas. Agora como o machismo é prejudicial até mesmo para os homens?

A Triste História de Dali Salvador

A Triste História de Dali Salvador Essa é a história de um pintor triste Vindo de um reino distante, seu nome é Dali Salvador, É, porque ele ainda existe, e tão triste é sua história Que a cidade definhou, sem um pingo de memória. Dali Salvador, pintor artista de mão cheia Sabia de todas as técnicas da época Pintor de bons santos e santas ceias. Paladino da alegria e da ternura Um relance em um quadro seu Era uma benção e alegria que perdura. Mas como toda vida o sossego estranha para Salvador algo lhe faltou Uma donzela que não só o seu olhar Mas seu coração ingênuo roubou "Oh musas, que tanto me deram" clamou "Daria tudo por uma última pintura Mas que pudesse conquistar tamanha candura" O clamor foi tão sincero e tão honesto Que um trovão num dia quente ecoou Assustado, Dali saltou, do momento funesto "Dali Salvador, nobre criatura" disse a musa "Estava ali ocupada com meus afazeres eternos Como n

Reforma

A lâmpada pisca acima, são seus sinais de sobrevida Quase não a noto, quase não percebo Há muito ruído lá fora Muita responsabilidade que ficou por ser cuidada Muita louça na pia por ser lavada Muita roupa suja por ser lavada Na última canção do violão uma nota ficou vaga Sobrou no ar, perdeu-se no espaço Quase não se pode escutar o que ela soa Talvez um branco gelo na parede para encobrir esse encardido E depois pegar a mochila, sair por aí Ver o mar ou as montanhas Andar errante, pro lugar desconhecido Ou tentar, quem sabe, preencher o espaço vazio de tudo. Não se cabe em si tanto quanto lhe falta A lâmpada enfim morre e só sobra escuro Sobra tanto que se esparrama pelos braços e cabelos E os cabelos, esses cabelos sujos, sem comportamento Bate-se uma porta tão forte na casa ao lado Assusto-me mais com a porta do que com os gritos Mas tudo bem, mistura-se aos gritos da galera A galera da rua que grita pra não ser desgraça Esses gritos de felicidade incauta p

Vaso

Este alvo trabalho em lama branca E um sopro de Deus que deste vida Deste vida e nada mais Podias ser  um vaso  de jardins ornamentais Mas és oco, e só. Posto indiferente em um  corredor pouco  circulado Quantas vezes passarão  por ti Para verem que és  um  Vaso quebrado?

Carta Aberta a um certo Professor Japonês Indignado

Eu sou filho de nordestinos, paulista, mas me considero mais nordestino do que paulista, e é graças ao nosso jornalismo fajuto, que há mais de 14 anos envenena a cabeça dos seus cidadãos, parece que a minha descendência anda vindo com um certo falso DNA: sou petista, sou vagabundo, uso bolsa-família, roubamos o emprego de algum paulista aí. Não sou nada disso. Eu não sou um estereótipo. Você é de humanas, não deveria se basear em estereótipos, pelo contrário, sua licenciatura tão sofrida deveria ter te ensinado a ser um investigador incansável, e saber analisar caso a caso. Julgar as pessoas por um DNA pré-estabelecido é o que fazem os números, e isso apenas para o levantamento da estatística. Até mesmo uma pesquisa vox populi carrega mais humanidade do que essa verborragia grotesca e sórdida. Pois bem, a você que enche a boca para falar numa sala de aula, cheia de adolescentes em formação, todas as ilusões que você acredita serem verdades, que não passam de um alívio imediato

Astreia

Lembra de quando conheci E depois de algum tempo Te conheci Da primeira vez em que te vi Como se fosse a primeira vez em que te vi. Lembra dos dias de calor Do corpo suado sem se importar Lembra dos lençóis amarrotados Lembra de quando tudo era presente Sem ansiedade, sem preocupação Lembra da minha mão na sua mão Lembra da primeira porta que batemos De quando entre um e entre outro Havia uma janela aberta Lembra das noites descobertas Com o turbilhão no pensamento Da solidão, do tormento Lembra da música que dizia tudo Que era como um casamento Lembra do ruído incômodo da noite E de repente o som tornou-se mudo. Lembra do sorriso da manhã seguinte Do coração leve e perdoado Lembra do arrependimento Lembra quando notamos a primeira falha Quando a voz causava furor E quando despertava o amor Lembra quando quis acordar contigo E quando quis acordar sozinho E quando quis acordar comigo E não quis mais ser meu amigo. Quando fomos ao parque sorrindo