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Amor de Lama

Minha Josefa Que sempre que enche o copo de água O copo transborda. Água que é só pras crias Acaba que sobra pra gente Que gente? Toda gente. Meu José tapa copo com terra Mas tapa o copo mesmo assim, sem buraco. Que sempre que enche o copo de terra O copo transborda. Terra que era pra ser só pras crias Acaba que sobra pra gente. Que gente? Pra toda gente. Água de Zefa Terra de Zé Lama da gente Pra mais que gente.

Crônicas do Não Saber: 2

No último Sábado a minha namorada esteve aqui com o filho, um menino ainda na primeira infância. Todos aqui parecem ter gostado do garoto, inclusive meus pais. Quando ele chega aqui eu tenho a sensação de que a casa funciona em razão da presença dele, como se todos os cômodos e móveis se dispusessem para o bem da presença dele. Meus pais, cada um a seu modo, ficam animadíssimos. Minha mãe não pouca comentários de ternura com sua voz chorosa de mãe que tem o coração derretido. Meu pai não consegue esconder por trás da usual expressão dura de nordestino trabalhador aquele sorriso de felicidade e paz por causa do menino. Eu suspeito que brote este sentimento neles por causa de uma necessidade biológica de herança genética, e por nenhum dos três filhos, meus irmãos e eu, termos ainda a menor pretensão de oferecer-lhes netos, eles calam essa angústia. Temos uma geração diferente da deles. Se fosse em outra época eles nos cobrariam diariamente tal como um cobrador de dívidas não oficial ba

Crônicas do Não Saber: 1

Eu não compactuo com o lunatismo conspiratório de Olavo de Carvalho, mas eu seria desonesto demais se não desse a ele os créditos por uma parte do meu amadurecimento. Confesso que só realmente dei atenção a ele por causa das gritarias de confissão desesperada de seus opositores na internet, trazendo na figura dele a imagem de um debochado profeta do caos, caso não sigam o que ele tanto tem a alertar. No prefácio do livro Admirável Mundo Novo, versão da Editora Globo, de 2001, ele fala sobre a condição de saúde de Aldous Huxley, e aqui recrio as próprias palavras de Olavo: "Símbolo e resumo de sua trajetória vital é a luta de décadas que ele empreendeu contra a cegueira. A doença que aos 17 anos reduziu sua visão a aproximadamente um décimo do normal não foi para ele, como provavelmente o seria para muitos escritores numa era de egocentrismo e autopiedade, ocisão de especulações vãs sobre a maldade do destino." É até curioso que Olavo tenha escrito desta

Depressão e Narcisismo

Há hoje em dia uma tendência de pessoas se declararem depressivas ou ansiosas, publicamente, alegando a justificativa de que desta forma estarão representando em nome daqueles que não perceberam ainda os sintomas da doença, alertando a sociedade para os comportamentos que podem despertar e agravar o problema. Porém, a forma como isso é feito, essa atitude de "sair do armário" e reconhecer a depressão, isso não me parece de forma alguma uma atitude altruísta. Eu a encaixo, em grande parte, em mais um item da grande coleção do desespero narcisista da nossa época. Não tenho evidências, mas as redes sociais estão aí para quem quiser buscá-las, e como isso é apenas um relato, uma forma de expressar desgostos da minha rotina de pensamento, então não vou me dar ao trabalho de buscá-las. Eu sei que é uma atitude intelectual covarde e preguiçosa, mas não escrevo este texto na posição de criar uma teoria generalista, ditando regras, isso é nada mais do que uma observação, reconhecendo

We

We run as a river Feeding unaware the existences of nameless creatures Marging the limits of our lives And at some point We'll be torn apart I'll someday share part of your ocean Or you, part of my stream In any case We both know We both should know We Are We water

Sancta

Antes do amanhecer Te negarei três vezes Primeiro te direi: Agridoce? Aquele sabor com gosto ocre. Agridoce foi teu amor Numa era em que é tabu falar de amor Em tempos de guerra Guerra consigo mesmo. Debatendo em pimenta doce No vazio do seu peito sem calor. Adriana? Teu nome rima com doença Com doença bacteriana. Adoeci quando amamos você Adoeço cada dia um pouco menos Até que um dia, nesses encontros do acaso Lembra de mim? Quem? Matéria? Explosão? Estrela? Te negarei três vezes, ante o amanhecer. Amanhece, amanhã o mar Árido acena em acidez O sanctus mar morto Da falsa Ana.
Existe uma diferença não muito clara entre ser feliz e viver superficialmente. O estardalhaço que se faz por causa do mínimo, a fim de propagandear uma vida a plenos pulmões, é apenas vitrine e estatística. Na era da pós verdade não me surpreende que tudo seja fingimento, desde a felicidade para esconder um vazio, ou a depressão para apelar a uma complexidade inexistente. Antes eu preferia a alienação. Depois a verdade. Logo busquei a realidade, e termino por viver no sonho. Sonhar me permite viver sem o peso na consciência de que estou em débito com o mundo. Vivo a passos largos para a desentrega.

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez

37 minutos

Suas pontas geladas Seus dedos e a ponta do seu nariz Se aquecem da minha energia Contigo eu deito por horas a fio Como se não importasse mais o dia Contigo esqueço de mim Em pensamentos loucos desvarios Contigo quero abraçar o mundo sem poder Sem poder! Contigo volto a ser um refém de mim Dos meus sonhos frustrados Contigo pairo trágico em recuo fetal Contigo, paro Respiro em um pulmão reduzido a pó. Seus dedos não são mais gelados Seus dedos são quentes e sufocantes Perco o ar em soma vacilante Contigo mato os meus amores masoquistas. Contigo paro

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Se você quer uma imagem do futuro, imagine um tênis All Star cor de rosa prensando um rosto humano, sem que nenhum dos dois faça ideia do que esteja acontecendo. Pois é Sr. Eric Arthur Blair, eu venci nessa.