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Às vezes sinto que a depressão virou um acessório, um espelho turvo que muitas pessoas usam e não reconhecem que a carga mental pesada se trata de uma cobrança das emoções mais íntimas contra suas atitudes em relação ao mundo. É mais fácil se queixar de depressão e achar que tudo está contra você quando você toma as piores decisões, onera sua consciência e não leva em conta as consequências das suas próprias escolhas. Gentileza não é uma via de mão dupla, porém, cruelmente, a maledicência sim.

Chama

Hoje o corpo está leve Etéreo, quase flutuante Limpo e cerimonial Pronto para o cortejo Macilento, sepulcral Em pacífico e eterno silêncio Pele seca e dormente Língua dura e silente. É o momento de descanso A cama do estupor Salvação da consciência Envolto de alívio, sem dor.

Ponto e Vírgula

Fique comigo  Fale comigo  Dance Comigo  Essa história tem ponto final Mas não é agora.  Sempre há espaço para mais  Espera;  Sei que te seduz  Laço ou pulseira vermelha  A palidez e a falta de ar  E ponto preciso  No buraco aberto das têmporas  Fique comigo  Fale Comigo  Dance Comigo Faça uma oração.  Ainda não acabou.  Como acaba o mundo  Enquanto a gente se distrai?  O coração como uma prateleira de enlatados  Como encobre o mundo  Enquanto a gente se destrói? O coração como uma praia de encalhados  O último canto da baleia não embeleza  O último encanto da princesa não eleva  Mas ainda não acabou  Fica comigo  Carrega tuas tralhas e amontoados  Fala comigo  Mesmo numa língua errada  Dança comigo  Mesmo com os passos em falso  Ainda não acabou  Mas vai, vai.  Vai.
No canto mais escuro da casa A câmara menos visitada O acúmulo das poeiras e dos tecidos antepassados Lá está Debaixo das histórias sobre os heróis da ditadura E dos profetas do bom Cristão Um espírito Refletido por velhos espelhos Atravessado por um ar pestilento Um pai e uma mãe de costas Suas mãos pesadas marcam a história num grito E se houver uma pequena possibilidade Ouvirá um som distante de um sonho que vai morrendo Meu sonho

Paulo Freire, o inimigo do Brasil

Estive pensando sobre Paulo Freire. Quando um homem usa sua inteligência para ajudar aos outros ele é chamado de criminoso, como Paulo Freire é chamado. Agora quando um homem usa seus esforços para enriquecer, mesmo que às custas da saúde física e mental de milhares de outras pessoas, ele é chamado de gênio. Estes seriam steve jobs, bill gates, elon musk e jeff bezos. Aqui no Brasil temos os nossos: luciano hang, eduardo saverin, jorge lemann, marcel hermann telles. Estes são os donos do país. Não existe nada mais obsceno na sociedade moderna do que a existência de bilionários. Estas pessoas estão acima das regras e acima das leis. Como sociedade queremos acreditar que existe ética em seus comportamentos, mas não existe. Nossa sociedade falhou nesse aspecto. Um bilionário só pagaria pelos seus próprios crimes se um dia atentasse contra o próprio sistema que o enriqueceu, e implacável, o sistema o destruiria. Luciano Hang na CPI da Covid foi uma demonstração disso. A CPI tem sido um ver

A Série Fundação na Apple TV - Uma hipócrita ironia

Senti muito receio quando vi que a Apple TV está para anunciar o lançamento da série Fundação de Isac Asimov. Não é coerente que uma empresa que atua com base no trabalho de exploração e quase escravidão se atreva a produzir um projeto com a obra de Isac Asimov, que muito provavelmente condenaria as práticas de negócios da Apple. É incoerente, pra não dizer hipócrita. Sempre fico extremamente incomodado com a insistência das emissoras de produzirem séries contando a história de clássicos da literatura, porque isso dá mais endosso para a preguiça de ler. Os livros provavelmente serão comprados para serem deixados como peça decorativa ou souvenirs, sem nunca serem abertos. É presunção, sei, mas conheço quem faz isso. Fundação foi a série que me ajudou a quebrar para sempre meu preconceito com a ficção científica. Quando comecei a ler de verdade, aos 17 anos, era muito seletivo, pois só lia os clássicos, e no mais, os clássicos da literatura brasileira. Só aos 20 anos comecei a abrir um p

7 de Setembro, 4 Anos Atrás

Duplipensar é um clichê da literatura, mas um clichê inquietante e traiçoeiro. Testa nossos limites e nos culpa pela condição de vítima. Duplipensar é revisar a linguagem. Revisar a história abre a possibilidade para novas interpretações dos fatos, mas revisar a linguagem nos torna imunes às sensibilidades. A traição física é uma coisa pífia, porque para mim, ela é a medida do nosso amor próprio, e feliz é daquele que dela se desfaz tão rápido, porque permite atingir uma compreensão da dimensão da relação humana. A traição física só atinge aos que, tristemente, ainda acreditam na própria fragilidade. Eu lamento por estas pessoas que se agarram com desespero à barca que carrega as promessas de uma vida sem dor. A traição física é a dissolução do orgulho, como pó, e que uma vez sentida, dói, obviamente, mas passa. Mas a pior traição a meu ver é a da fé, mais difícil de suportar, e causa maior instabilidade quanto ao futuro. Causa danos sobre o ser, e por um instante, rompe com nossa perc

Teachers - Masters of Mistakes

I don't quite fancy the idea that a teacher should resemble the character aspects of a martyr, for the same reasons that doctors shouldn't be accountable as gods or scientists as flawless brainiacs. These mythological and fantastical labels that are often stick on some professionals bring more harm to the efficiency of the job than the belief that is part of praise and encouragement. It means that idealizing these professionals has close ties to dehumanizing them. When a professional is dehumanized, society doesn't seem to take their responsibility seriously, a responsibility that the professionals warn us all the time. Meaning that a god-like doctor is one who cures all diseases, instead of a society that is more concerned with their personal health care. A know-it-all scientist is one who carries all the answers instead of a community more engaged to create, question and produce more knowledge. Such as a teacher that is seen as a martyr, hence, it is the person who makes

A romantização da miséria na mentalidade liberal

Enquanto a esquerda que se deu bem na vida e foi cooptada pelo podre sistema passa os dias impondo como as pessoas devem se portar moralmente, vemos no outro lado, o liberalismo econômico invadindo e sugando os recursos dos países que tem a estrutura social fragilizada para combater o roubo. Todo liberal condena a estatização. Mas eu nunca vi um liberal condenando a pobreza com a mesma força. O liberal parece condenar mais o pobre do que a pobreza em si. Porque o pobre representa o fracasso de uma das principais muletas do liberalismo, que é o empreendedorismo individual. Num país que tem suas riquezas roubadas diante dos nossos olhos, desde sabe-se lá qual década, vendem a nós a narrativa de soluções imediatistas. Então o homem que passa a vender água no farol já não é um trabalhador que está na linha do desemprego. Ele é retirado desse número, e as fatias e porcentagens que poderiam queimar o filme de um governo sem planejamento já não se tornam mais o problema. A solução chega a par

Numa Quarta-Feira fria em que Nada Acontece

Imagino um mundo onde não há dor Que não tenha som, nem cara nem cor Esse mundo que se embarca com um laço Um portal que se abre igual ferida Um barulho de explosão em minha cabeça Solidão sem necessidade de abraço Um mundo onde não há corpo Ou ele vira cinza, ou ele vira pasto Um mundo que não é impossível Atravessa em embarcação escura Vence-se o medo do umbral Onde a paz é plena, e dura.