Há um lugar Que quero sempre visitar. Que clama por mim Ou quem o clama sou eu? Um pedaço de chão Recôndito, recluso, difícil de encontrar. Esse lugar, simples lugar. Um pedaço de terra Um arbusto aqui, outro ali Salpicada como tempero E as flores que você plantou Para você colher. Esse lugar que se confunde Com o conforto cálido do ar E a maciez lívida do toque E o aroma doce do hálito Um lugar que afaga a inquietude Que transforma o solo que míngua Em um caudaloso açude. Há, que pareça sonho, um lugar assim Onde as vozes soam Como o primeiro pranto da aurora E as teias de luz que se desenham Para embalar o renascer. E lá chegando, deitaremos na grama Não sentiremos vergonha Nem da lágrima Nem da mágoa Nem da vontade de sorrir. Largaremos para trás O fardo venenoso da memória E faremos do presente momento Uma nova história. Lá, no lugar embrionário Teremos a plena certeza De que repousamos no olhar A nossa sincera natureza. Há algo assim, de Belo De extraordinário Há, no infinito dos ...
Nunca te abriram uma porta Só te trouxeram este tumor Quando pensava que colher flores Era um gesto válido de amor. Mas olha só pro que colheu Olha bem pro que tem em tuas mãos O que tolheu a vida inteira, já morreu E o solo onde pisa não é ramo, é chão Trouxeram-te um drink Está aí em cima Trouxeram-te até A tentativa tola de um verso fazer rima. Sim, te elogiaram os sapatos Ou até mesmo uma certa eloquência Mas é só, nada mais Só tem o chão que pisa com frequência. E agora que nada tem a entregar Senão a menção daquilo que te ilude Aquilo que o desejo leva na lombar Quando a cabeça deita e o descanso alude Agora, dizem, pare com as palavras Abandona toda tua vontade Desta rua segura que te lavra Larga para trás esta cidade. Este largo, que o perdido olhar Ante a tempestade sustenta e esfria Esta ilha que deixa a barca atracar Que traz no pensamento a fantasia. Ainda que orne a casa de ramagem E ainda que nutra na dor algum riso O que tem fora é luz que queima e que arde O que tem em ...