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Coração Sem Fé

E assim diria o romântico desacreditado: Compartilho com vocês, desgraçados de vida, essas parcas palavras sentimentais cheias de feridas. Palavras de um espírito já frouxo e cansado. Pensar demais desgasta a alma e destrói as esperanças. Vivamos o que há de melhor, dizem-me. Mas olhemos à nossa volta com sinceridade, ao menos uma vez. Apenas olhem, não precisam me dizer nada, não precisam me dar sua opinião e nem assumir publicamente. Assumam para si mesmos, vergonhosamente, ou com o típico desdém das juventudes: o que há de bom para se viver? Onde há alegria e oportunidade, eu vejo apenas covardia e medo. Eu vejo um superficialismo barato e vendido. Uma hostilidade ao que é verdadeiramente humano, unicamente por sermos egoístas demais para assumirmos os nossos erros e tentarmos outra vez. Não digo tentar de novo subir a escada invisível da montanha financeira. Não, não vou me calar, e nem vou mudar o meu discurso. O que mais é revoltante é saber que muitos daqui acreditarão que é ver

A Porta

Quando despertei num quarto fechado, sem janelas, sem decoração, apenas eu, uma cama, e uma porta,  ouvi a está voz de um arcebispo suntuoso e elegante, que me fazia companhia. Ele era meu único alívio de solidão. Curioso, ele já me alertou: "O excesso de perguntas é o que leva o homem a loucura. A única resposta que precisamos, está em Nosso Senhor Deus. Todas as perguntas devem partir dele, e todas as respostas levam a ele, pois escrito está que Ele é o Alfa e o Ômega,  portanto tudo veio Dele e  tudo volta a Ele." Dito isso, o arcebispo suntuoso desapareceu como uma nuvem de poeira, e se sobrou dele alguma coisa, foi o desconforto alérgico na respiração. E como se fosse fruto da minha imaginação,  não mais o escutei. Mas havia diante de mim aquela porta. Era simples, de madeira, e maçaneta de ferro, lisa, sem ornamentos, sem enfeites, sem detalhes. Apenas uma tábua que separava um espaço do outro, o único obstáculo que me confinada neste pequeno cômodo de 3 x 3. Não er

Corona Vayrãs: A Grande Comédia Brasileira (That shit IS real man!)

Eu não sou idiota, negacionista, ou cego. Eu sei o que se passa no mundo atualmente. Sei que estamos vivendo no meio de uma pandemia virológica, e que isso pode ser um dos maiores desafios que já vivemos nesse século. Não sei dizer se da história, como muitos jornalistas gostam de manchetear para ganhar a atenção das pessoas. Essa ressalva não é para minimizar a pandemia, mas é porque eu não perco a oportunidade de maldizer o veículo de informação. Jornais sofrem do duplo mal de que, ao mesmo tempo em que informam, eles também precisam fazer publicidade, então daí tiramos a nossa alta desconfiança sobre o que eles dizem.  Porém, é este um dos raros momentos em que eu poderia dizer que a imprensa é uma das poucas instituições que tem exercido um papel crucial para superarmos este momento, juntamente com a divulgação constante dos cientistas, em que sequer um simples espirro parece passar longe da documentação criteriosa, pois não estamos vivendo um momento comum. Fala-se até em solidar

Liebe Ist Für Alle Da

Eu me lembro do quanto nossa vida era repleta de música. Eram músicas ora obscuras, ora festivas, ora eletrônicas, ora progressivas, sim, músicas polêmicas, nada melhor do que isso para ser a trilha sonora do que se aconteceu.  Ninguém entende, ninguém entenderia. Se soubesse o vazio que existe agora, um vazio de tudo. Vazio até mesmo de música. Uma sensação intensa de que algo muito importante se acabou para sempre. Eu acho que precisamos reconhecer quando essas coisas acontecem, e hoje entendo melhor os motivos dos homens tristes. Algo morreu, e não existe ressurreição, isso é o mais trágico de seguir existindo. E eu percebo cada vez mais o quanto tudo era especial, único, marcado para sempre na memória, e digno daquela tamanha dor quando ficou para trás. Nunca houve nada tão digno para ter tanto pranto, e a vida seguiu apesar de tudo.  Não sei como será o futuro e desde aquele tempo parei de me importar com ele, acredite, não vale a pena. Mas sei como foi meu passado, u

Impressionismo à Brasileira

Escapa da mão distraída o pincel Que borra escuro o restante do dia Na velocidade de um negro corcel. É o passo do sonho, rápido, incongruente Às vezes, cruel. Cruel como uma chuva de homens de fato. E dói  Como quem dói na solidão: Praça de alimentação do shopping center popular Copo de milk shake  da famosa franquia Muitas risadas debaixo dos guarda-sóis Qual o sentido de guarda-sol dentro do shopping? Nada faz sentido nessas risadas Toma o milk shake Deita o pincel. A noite vem comigo Nessa borra escura na bata preferida Enquanto a dança segue a vida pelas calçadas Uma nota soturna embala o coração. Do outro lado da rua Uma menina não vê, que com ternura, sorrio também Debaixo de um guarda-sol. Eu corto minha orelha se me reparasse É tudo pintura.

O Erro Divino

- Quem é que bate na minha porta a uma hora dessas? - Sou Deus! - Quem? - Deus, Deeeus! Abre! - deus? - Não, não deus, Deus, Deus meu bom homem. - Pois não conheço Deus, apenas deus. - Não é assim que se refere a mim. Sempre fui Deus e sempre serei Deus. - Mas para mim é só deus, porque eu mal te conheço. - Não me conhece? De forma alguma? - Não, não conheço. Nunca ouvi falar de Deus. - Espera um momento. Que dia é hoje? - Hoje é Quarta-feira. - De que ano? - Quarta-feira de 1922. - Aquilo ali é uma lâmpada? - Sim, é uma lâmpada. - E aquilo ali é uma TV Holográfica? - Sim, é. Uma TV Holográfica de resolução em 32K pixels. Precisa usar esses óculos aqui pra não doer a vista. Uma coisa visa a outra. - 1922 você disse? - Sim, 1922. É Deus o seu nome? E você é o que? Vendedor?  - Não meu filho, eu sou Deus! Mas 1922 e TV Holográfica? 1922 depois de Cristo? - Depois de quem? - Depois de Cristo, meu filho. - Cristo? O que seria isso? - Não conhece a Deus e nem a Cristo? O homem que enviei ao

Pós Verdade com Farofa e Banana

Estou fascinado com a covardia e fraqueza desta geração. Vivemos em uma época em que as pessoas disfarçam sua fraqueza em um ódio fajuto, desviando a verdadeira intenção do discurso: pedem para que não batam nelas porque são incapazes de se defender. Isso é puramente uma metáfora. Entenda por "bater nas pessoas" não a violência física, mas a argumentação ácida. Quando o debate se torna espaço para a simples opinião, não existem mais regras. Mas debater com lunáticos é uma tarefa intelectualmente suicida. A melhor forma, talvez a legítima defesa da dignidade, seja recorrer aos mesmos artifícios. Se você age como idiota e todas as pessoas passam a acreditar que você é um idiota, isso vai dizer mais sobre o comportamento delas do que sobre o seu. Contudo uma vez em que eu vivo segundo a minha própria moral, não é sequer um risco, é nada além do que um alívio.

O Cacto

Este cacto Este cacto duro que aparece Toda vez que eu te abraçava Desgraça Este cacto que da sua boca Areia do deserto Este cacto sombrio Anarquista meia tigela Sentimento de amor banguela Este cacto que é indivisível Na revolução popular Não é rebelde nem militar É um cacto em seu devido lugar Nem mais pra frente Nem mais pra trás Nem cruzando a avenida  Pela tempestade Não tem bandeira não tem idade Este cacto aí sempre esteve Isento de solidariedade Este cacto do bem Da boa maldade Da mais pura imbecilidade.

Mindfulness de Botequim à Tarde

A voz que para dentro clama Aquela que todo mundo escuta Um som que se arde em chama Abre-se em fissura uma gruta E diz olhai o túnel interior Caminha pelo escuro, confia Segue lento no chão ardor Sente na pele o sussurro, espia. Arrasta pela negra galeria Este pé que pesa de insistência Não há nada lá, não há nada lá É a repetição dessa confidência. A quântica teoria nos diz Tem algo que no descontrole Teima em controlar Luz arde chama Alegria alegria E o Sol nas bancas de jornais Ninguém se lembra E nem sabe do Sol. Só do sangue E do pó que vieram estes homens imortais. Um homem dos informes, um jornaleiro Escuta moço, quanto custa o isqueiro? Leva aqui rapaz, não te esquece do cinzeiro. Fim do  almoço de arroz, feijão filé, Vai um café? Quanto foi? Perdeu de novo? Vai descer motorista Resmunga puto manobrista. Carta boleto ferro de passar jogo de botão De rosa caída escada vez que se sai Vá mais falo centro peça de teatro! No fim do túnel, u

Deimos

Meu amor, Quando eu fazia de mim um servo Era teu um severo amor. Queria ter te dado o mundo Ou um abraço, Mas só tinha eu. Beijei o rabo do Inferno. Consolo-me, beijei teus pés. Meu amor, a ti amei Como jamais amei Iavés. Quem vive o pânico O medo e o horror Te amei como jamais meu amor. Da lenda em teu labirinto Eu era o Dédalo e tu minha Perséfone. Sabia que era cera E me disse: voa, voa alto Meu amor me levaste ao céu e ao chão. E como a Sibila ergui a mão Dai-me seu amor, conforme os grãos de areia E deu-me só os grãos em que o fogo ateia. Amor, como te amei Mesmo com a mão em faca E a corda em mão. Amor como gritei teu nome em vão. Te amei Senhora da Guerra. Desço da portentosa casa divina Onde a consciência um dia mina. Morrer na imortal Terra