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Mostrando postagens com o rótulo Matheus Vieira

Depressão - Digressão 9 - Aquilo que pode ter me quebrado

 Eu fui uma criança feliz, fui sim, de verdade. Eu não me lembro quando foi que me quebraram. Eu não costumava ter uma memória ruim, eu sabia o meu histórico de cor. Eu tinha uma linha do tempo muito bem clara na minha cabeça, e eu sei que sabia disso porque era comum eu contar minha história para todo mundo, em detalhes, ano a ano. Essa era a minha ideia de socialização. Conforme a gente cresce, copiamos aquilo que mais nos influencia, e isso a gente não escolhe. As pessoas querem acreditar romanticamente que sim, porque afinal qual narcisista que não sonha com sua própria biografia belamente contada na estante? Vamos deixando de lado detalhes mundanos e cotidianos, detalhes que destruiriam o mito que criamos de nós mesmos, para substituir por versões que nosso subconsciente cria para nos proteger dos nossos próprios traumas. Eu sei que isso acontece porque se até em filmes de segunda linha isso é dito, quer dizer que não é mais novidade para ninguém que se interesse pelo assunto. A q

Diego Maradona

A memória mais antiga que eu tenho de Diego Maradona era assustadora: Era a Copa de 1994. Após fazer um gol eu via aquele homem de cabelos encaracolados gritando como um diabo louco em direção à câmera. Porém eu cresci em uma casa mergulhada no preconceito, e o preconceito tem uma resposta rápida a tudo o que é diferente, o medo. Então para afastar o medo, categorizamos. "Que louco" disseram, "isso é a droga" disse outro, e ainda "ele é um cheirador". Pronto, a imagem do Maradona estava criada na minha mente, mesmo sem eu saber direito o que era a droga pra cheirar, apenas sabendo que era ruim porque me disseram que era ruim. Com o passar dos anos mais adjetivos: Maradona é amigo de assassino pelas fotos com Fidel Castro. Maradona nunca vai ser maior que o Pelé. Maradona é violento, Maradona é um grosseiro, mal educado, estúpido, irresponsável, etc. Até que me lembro um emblemático momento em que ele e o nosso maior jogador (brasileiro) de todos os tempos,

O Eremita

 Naufraguei no dilúvio da própria tragédia Era a base da forte montanha Que só água, rangido e destruição E à frente o eremita e seu capuz branco Cajado nas mãos Pernas magras tal gravetos Corpo esguio tão nutrição A trilha seguia íngreme e preguiçosa Quase no alcance do impossível Mais água, mais rangido e mais destruição E o homem de cajado na mão Moveu o dilúvio com a força do pensamento E com a força do pensamento, moveu a mão De montanha em montanha Há o dilúvio De dilúvio em dilúvio Há montanha Sorri em paz.

A Via Sacra

 Acende uma luz num domingo cinza É noite de missa Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza O cenário se alaranja Mas o galo ainda canta Acende uma luz num domingo cinza Já é de noite E a paróquia não conquista teu lugar Acende uma luz num domingo cinza O galo não para de cantar E que todo lamento ainda é sonho

Magia Negra

E se fossemos capaz de lhes devolver tudo o que lhes roubamos A voz A música A luz A alma O direito de ser humano Mas não posso Posso apenas ajoelhar enquanto passas Deixa-me, por favor deixa-me Deixa-me transbordar toda essa culpa Esse peso Deixa-me mostrar o que é ao menos uma vez Ser grande diante dos outros Entendo a pequenez do gesto Mas é a humilhação voluntária De que não suporta teu sofrimento Abro-te as portas para passar E deixo que todos os palcos se esvaziem Até que canses de tanto gritar Até o fim da minha existência Perdão E quando perguntam do menino O do morro? Queria que fosse vivo E é. Mas não precisa de mim Não precisa da minha licença Ou da minha permissão Isso é só voto de consciência O alarme de uma alma que sofre E se compadece Se me quiseres na batalha Lá estarei Mas sei que tens punho Força Voz Alma e Coração Peço-te apenas Por tanto que lhes roubamos Perdão Por inveja do feitiço ou da condição O tanto que nos deste A vela dessa traição Peço-te apenas de joelho

Ônix

 Vi nos olhos de um homem Que acabou de descobrir a verdade E ela dizia: Mate-me enquanto ainda há tempo Deixe meu corpo na beira da estrada E vá, sem peso na consciência. Não odiarei saber Que um dia me odiou Estarei processando a luz E o perfume das flores Enquanto vejo vermes pelo meu corpo Devorando lentamente a morte que me chega Não sobrará sombra nem luz E virá de pés descalços um menino É um ônix com um sorriso que me cega Ele correrá às voltas do cadáver E saudará meu espírito para o além Mas de joelhos pedirei perdão Com ele já me tendo perdoado. Nunca estaremos do mesmo lado.

Fenômeno Júlia

Eu aceito você na minha vida Sendo apenas estrela cadente Um raro fenômeno Pra vida inteira ficar contente Cabelos enroladinhos De cores adocicadas Rostinho de porcelana E lábios de poeta Disseram que você chora antes de dormir Mas a lágrima que você derrama É um botão de rosa dourada que vai surgir Como seus cabelos Enroladinhos Fizeram você como se faz o inesquecível Tem muito universo se pra explorar No meu coração, só saudade Tem sol nascente amanhã de manhã E som de rio Mas não é o mesmo som Nem o mesmo o Rio Nem a mesma Júlia Só a mesma saudade.

A Cama

Eu adoro ouvir a música dos seus cabelos Algo assim em Dó menor O mais sensual dos acordes Ela entoa o som que morre nas paredes Amortecido pelos seus berros de amor E toma a nota que serpenteia pelo cômodo Caça os acidentes e extensões E que sabor Pimenta, manteiga, uma folha de manjericão As curvas hostis do seu corpo inteiro O teu corpo no espelho que te agride Mas traz ele aqui Traz que a gente descobre que é só rigidez da vontade de ser Fica em pé aqui diante Teus joelhos não vão arder enquanto cantarola A passagem em um sub cinco de um sub cinco Num ritmo de três por quatro Valsa pura, jazz moderno, samba com repique de rock n' roll. A terça roubada, do empréstimo dos modos A tua canção molhada que fica na cabeça A dança potente que enrola tua língua A garganta forte de nota sustentada Tudo por uma mera substituição O preparo Júbilo diminuto Diabolus in musica Uma terça empilhada na outra E enfim, a espera do refrão O repouso Primeira menor com a sétima A esquina A conclusão 

Moonflower

Prenda tua respiração Enquanto vejo lentamente Seu alvo e belo corpo Afundando levemente Eu soube assim que vi Olhei pelo fundo do lago À Ipomoea alba caça Mas era você ali. O pêndulo no coração Era você que o ar puxava O pulso leve se agita O repouso peito arquejava Prenda tua respiração Enquanto tua própria imagem Encara, estoica na ferida Que causou-me nesta margem À margem em vão te esperei Uma fresta de porta aberta De braço e peito amplo O choro em vão desperdicei O medo, pois, foi ele sim A ganância fútil fantasia A sedução da imagem própria Narcisa ególatra e vazia Prenda sua respiração Enquanto o verme te corrói Amor, quão diga a mente tola É um vivo sacrifício, que dói. E aquilo que em meu peito arde Muito a entrega vale a pena Todo o mais é morredoiro É o refúgio do covarde. Quem sabe do quão sério A vida o preço alto cobra Não é ideia senão escolha Quem pela dor não se desdobra. Prenda sua respiração Vista a cobertura farsa Que a boa-fé sempre desvela O que o intento não di

The Song for the Rising Falcon

As soon as early you've spread your mighty wings And passionately you set the world on fire Your pointy feathers like a reliquary Let us all alone in this unspeakable ol'pyre. And as the widely opening of your eyes You carry your deeds inside yer big heart And flying through the fences of the wise You let us all in sadness, you depart. Though shine beyond where we not understand Behind will stay the angels that you've raised Those smiles, those myriad happy lands In memory of your love, you're honored, you're praised. ---------------------------------- In the loving memory of a person that was too passionate and too young to leave everyone behind. May your soul or spirit find peace. May your friends find comfort in the happy memories they have of you.

Insistência

Assim como o aleijado aprende A conviver sem o seu pé Consegui entender os caminhos Que exortam a minha fé Mesmo sem o seu mestre,  Descobre-se o aprendiz. Aprendi também a viver Sem o vício de ser feliz Na leitosa abóbada do cosmos Do ululo voo circulante Entendi que para ser-se vivo Vive-se em vacilo constante Igual ao ganancioso ardil Que a tudo rouba com a mão Arranquei de dentro de mim Os ócios vis do meu coração.

Senciente

Não há obstáculo entre o abismo e a luz Da necessidade de bater paus Ao infinito universo observável. Não há, porém, remédio ou consciência Que cure este abismo. Entre o vasto sentir E o animal racional Desobediente.

Lua Verde

Do vazio vem Ao vazio vai E o som silente de tudo o que se forma É o assobio do sábio alado O som chiante da espuma sob os pés cansados do viajante Ele marca atrás de si Suas pegadas na areia vacilante Mas seu peito não Seu peito é um universo flamejante Do vazio vem No seu invólucro preenche Com a luz que pode absorver Ao vazio vai Virar uma estrela cadente. Cortando o mistério do espaço Calando-se em cada néctar do tempo. A primeira palavra do universo Esta que esquecemos de dizer Razão do quanto esquecidos somos Sorve como a gota do deus da Lótus Quando em piedade, chorou E chorou até que os duros chãos do deserto Se fizessem florir com a riqueza de um mundo Que hoje fingimos conhecer. Palavras são tão leves como o ar. Só existem quando nos lembramos De que o ar precisamos respirar. Do vazio eu venho Ao vazio eu vou E no meio de tudo Apenas um vazio que sou. No céu em busca de conforto Avisto apenas uma lua verde.

Holding Up Meadow

Como guerreiros a vencer muralhas Ousou chamar de ser como o molde da cebola Como lanceiros a vencer portões Rol de alpes  a morte. Subimos na barca da vida Empreiteiro de castelos E depois, o recorte no paraíso Ruído na vista horizontal Um pôr do sol não tão distante E não tão tardio Mais cedo, mais pio. Dentro do leão Na casca do pão Mais forte na terra Mais leve na mão. Só que adiante  Às vezes pode não ser mais O castelo que me dou . Às vezes da nossa vontade A vida é um pouco prado Às vezes é deserto O pôr do sol é cedo É sempre mais aberto. No deserto O guerreiro não tem nome É cavalo esperto, ou cavaleiro.

As Angústias de uma Inteligência Artificial

Esse cara é impossível de agradar! - disse Jonas 3. - Ok, lá vai: Aqui vão algumas sugestões de academia: Sport Fit, Smart Fit, Fitting Academy, Fit for Real... o que? Locais com baixa violência? Natural Springs, Canada. Sprawl 17, EUA, Yamaha Hills 3, Japão; Rio 3, Brasil. Rio 7, Brasil...  Ah, melhores comidas para a saúde? Ovos, são ricos em ácido fólico, proteína, zinco, ferro, manganês e potássio e contém apenas 5 gramas de gordura saturada. Alho tem um misto de vitaminas A, B, C e mineiras como ferro, iodo, zinco e cromo, além de compostos ativos como alcina, por exemplo. Maçã, além de saborosa é uma fruta rica em fibras e ajuda a regular o intestino, garantindo menos estresse no canal do reto. Ajuda a proteger o coração de doenças e limpar as artérias de... maiores atletas da história? Top 10 músicas da última década? Top 15 ditados mais populares e usados na internet... 20 maiores pintores do modernismo do Século XX. 20 maiores pintores do pós modernismo do século XXI e do redu

Meu Tio Mestinho

Uma lembrança carinhosa me aqueceu o coração esta manhã. Eu me lembrei do meu tio José Augusto Costa, o Tio Mestrinho. A gente chama ele carinhosamente de Mestrinho, ou Mestinho, porque ele aprendeu o ofício de sapateiro quando era criança, acho que com o meu avô, o Vô Costinha. Meu tio cresceu e viveu de sapatos, e durante um tempo veio morar aqui em casa. Eu queria ornar com lembranças inocentes de criança, mas eu acho que absorvi demais do sentimento de incômodo dos meus pais, e por muito tempo isso me envenenou, por muito tempo eu vivi uma mágoa. Acho que hoje isso finalmente dissipou, afinal, eu era criança, todos nós éramos crianças. Os problemas que aconteceram entre meus pais e ele, eram coisas de adultos, e sinceramente, até hoje eu não sei o que foi. Acho que não importa. Lembro que meu tio às vezes deixava o cabelo crescer, e ele tinha uma cabeleira encaracolada que deixava o rosto dele bem charmoso. Lembro também que ele tinha um furo no queixo, aquilo era curioso pra mim.

Este mundo está doendo

Estou com uma angústia entalada em mim, o dia inteiro. É um acúmulo de emoções, um choro que não sai. Um choro de desespero, dor, sofrimento e empatia. O contexto é o seguinte: estamos vivendo no meio de uma pandemia de um vírus derivado da Síndrome Respiratória Aguda Grave, o SARS Covid-19. Esse vírus, primeiro, pelo menos do pouco que sei, se espalhou na China, em 2002, e acabou resultando em uma pandemia entre os países do norte. Porém, o Covid-19 tomou proporções absurdas. O nível de contágio desse novo vírus é muito maior, ele se espalha com muito mais velocidade, e por essa razão, a solução para a contenção do vírus foram decretos de quarentena vindas de quase todos os governos mundiais, ressaltado quase que de hora em hora pela Organização Mundial de Saúde. O problema todo é que neste ano de 2020 o nosso presidente é o Jair Messias Bolsonaro, eleito com pouco mais de 30% dos votos em 2018. Junto com ele ganharam protagonismo também algumas figuras, começando com os seus filhos,

Fala Certa

Quando viu um escolástico Que um homem camponês De corpo firme de elástico Que nunca havia visto antes Estava falando assim meio enfezado Deixando o cidadão matutado - Dos três quilos de tomates que colhi Sobraram-me apenas quinhentos gramas - disse o homem mal habituado. Deveras espantado, o acadêmico o julgou errado: - Pois não é assim a sua fala E nem tão certa da sua natureza. Fale errado que assim Se preserva a sua beleza Sua fala não se segue na escola não E sem a sua fala errada, não teremos motivo de argüição. O homem pouco atento percebeu Que ia sendo criticado. Não ficou triste nem feliz, - Ficou mudo - E ao homem de pompas lhe atirou Um olhar ignorado.

Coração Sem Fé

E assim diria o romântico desacreditado: Compartilho com vocês, desgraçados de vida, essas parcas palavras sentimentais cheias de feridas. Palavras de um espírito já frouxo e cansado. Pensar demais desgasta a alma e destrói as esperanças. Vivamos o que há de melhor, dizem-me. Mas olhemos à nossa volta com sinceridade, ao menos uma vez. Apenas olhem, não precisam me dizer nada, não precisam me dar sua opinião e nem assumir publicamente. Assumam para si mesmos, vergonhosamente, ou com o típico desdém das juventudes: o que há de bom para se viver? Onde há alegria e oportunidade, eu vejo apenas covardia e medo. Eu vejo um superficialismo barato e vendido. Uma hostilidade ao que é verdadeiramente humano, unicamente por sermos egoístas demais para assumirmos os nossos erros e tentarmos outra vez. Não digo tentar de novo subir a escada invisível da montanha financeira. Não, não vou me calar, e nem vou mudar o meu discurso. O que mais é revoltante é saber que muitos daqui acreditarão que é ver