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Maestro João Carlos Martins e a valorização da tragédia na TV

Minha mãe estava me contanto hoje sobre o Maestro João Carlos Martins, que visitou um programa de TV aí (não sei o nome, não assisto TV há muitos anos). O maestro vive um drama pessoal, é um pianista, apaixonado pelo ofício, tem na música a sua própria motivação para viver, e por causa de um assalto, onde sofreu uma pancada na cabeça, causou-lhe um problema neurológico que o impede de ter o movimento natural das mãos, quase impossibilitando que toque piano. Neste programa ele começa a tocar uma música no piano, apenas com o dedo indicador de cada mão, e em dado momento, começa a chorar: o motivo, um jovem promissor, da música (segundo minha mãe) morrera por causa de uma tragédia de violência. Minha mãe falava isso com uma voz piedosa e uma expressão de pena, e se via tocada por isso. A TV tomou tamanha proporção na vida das pessoas dos anos 50 a 2000, que esta geração desse período de 50 anos foi completamente convencida a dar qualquer situação nessa tela como verdadeira.

Misantropo I

Alvejo em choque Arremedo-me em contrapartida Não pedirei, jamais, licença Dai-me a escusa, porém Se és por liberdade Dai-me o passe total da vida. Que seja perante ao pernicioso O perverso e o doloroso Pois que venha o ardume Do inferno escarnoso Que me tragam o futuro A ruína das fortunas Dos sonhos e conjecturas Que zombe, essa divindade hostil Das feições da persona Em letárgica máxima febril. Estes espinhos, que tão profundos Perfuram a sanidade do homem gentil Não queira dele tirar o mel Senão o veneno da alma senil O máximo do néctar que lhe doa É a resposta cínica, amarga e mordaz Versaria-lhe com metáforas melífluas Escondendo as falácias de uma alma: Entremeios às brumas do arrozal Ao charco atiro-me, deixa-me lá O homem que vem do barro Não necessita de piedade Não precisa de perdão Aos que viveram o inferno da realidade Vivem a felicidade de estar no chão.

21 anos sem você...

O que faço agora é um grande absurdo, escrever um texto para alguém que não está mais aqui. É próprio de um lunatismo total, porque não, você não está em parte alguma desse dito além, tão fruto da imaginação humana, olhando pra mim, justamente pra mim, apenas porque agora estou pensando em você. Mas a saudade e a falta que você faz me enfraquece o espírito e faz com que eu caia nessas bobagens que às vezes nos rendemos, a precisão para não enlouquecer de vez. Já não estaríamos loucos o suficiente apenas por redigir por algo que não existe mais? De qualquer forma, eu não faço ideia da pessoa que você seria hoje, se ainda estivesse aqui. Não faço ideia se seríamos amigos ainda, se estaríamos perto um do outro. Dado o meu histórico social, é muito provável que não. É bem provável que você entraria pra minha lista da saudade, essa amargurada lista que eu pretendo esquecer. Nostalgia é o refúgio de uma mente que se acovarda com o presente. A vida é o que é. Mas ora, eu quero qu

Depressão - Digressão 2

Estava pensando sobre essa ideia de que a depressão é uma doença social, pode estar ligada à toda dinâmica de relações entre as pessoas. Normalmente uma pessoa torna-se atraente e interessante para outras, não só no sentido sexual, por causa de seus atributos e costumes. Procuramos sempre por pares, por pontos de identificação. Buscamos também pessoas que possam nos acrescentar como seres humanos, afim de prosperar dentro da nossa comunidade. É uma ideia bastante primitiva. Uma pessoa normal começa o seu dia em busca dos seus afazeres. Estes afazeres estão atrelados aos seus objetivos pessoais, uma profissão ou estudo. A partir desses afazeres temos como resultado algum tipo de produção, uma das maneiras usadas para comunicar nossas ideias e emoções. Estas ideias podem coincidir com as ideias e emoções de outras pessoas, e aqui temos um ponto de identificação entre pares, formando uma relação. Parte da depressão tem a ver com isolamento social, quando a pessoa sente uma di

Depressão - Parte 2 (2000- 2014)

Procurei a psicóloga, e tentei reiniciar o tratamento que eu havia interrompido em 2010. É aqui que a memória me trai, então muito do que eu vou dizer pode ser apenas fantasia minha, pra tentar não ir diretamente aos motivos da minha dor emocional. E por isso é tão complicado falar de depressão da perspectiva do doente, porque o doente depressivo está longe de ser um realista. Ele sempre se vitimiza, quando as razões da doença tem mais origem numa permissividade dos eventos, bons ou ruins, e numa falta de imposição de ser. Pelo menos é como eu entendo hoje em dia. Comecei dizendo sobre a minha separação, e, novamente, os motivos são totalmente parciais, pois existe também a dor da separação do outro lado, da minha ex-companheira. Vamos chamá-la da Kátia. A Kátia foi um romance que surgiu na adolescência. Nos conhecemos em 2000, eu acho, numa festa de família. Eu tinha quase 15 anos e ela 19. A razão por eu ter me apaixonado foi a das mais banais para alguém que sofria de uma p

Depressão - Digressão

Por que eu devo adiar a dor dos outros enquanto a minha perdura? Por que eu devo permanecer aqui para que apenas as pessoas não sintam, neste momento, a confusão inexplicável de perder alguém com quem elas se importam? E por que eu importo? Para que eu sirvo? Pelo que eu vivo? Pelo essencial da sobrevivência, da evolução, e das razões para dar como herança o gene útil pela vida, eu não sou de grande valia. Eu não sou um grande pensador, nem um grande inventor, ou uma pessoa chave no direcionamento ou reinvenção da civilização. Essas pessoas que as pessoas tendem a chamar de heróis, ou gênios. Eu não sou nada disso. Eu não sou santo, não sou humanitário, nem mesmo um mentor. Eu não sou nada. Já me foram dadas mais do que evidências. Eu sou apenas um peso morto. Então, por que? Por que continuar? Por que persistir no inevitável, de que não vai dar em nada? Quem melhor para saber dos desígnios da minha própria vida senão eu? E eu sei que não vai dar em nada. Eu sou menos do que um sopro

Depressão - Parte 1 (2014)

Decidi hoje começar uma série sobre meu histórico de depressão. Talvez como forma de terapia, ou como uma tentativa de elucidar ainda mais, com exemplos reais (a partir da minha perspectiva parcial) das situações que me trouxeram até onde estou hoje. Decidi escrever estes relatos da forma mais direta e menos subjetiva possível, porque eu tenho um vício em subjetividade, mesmo que uma subjetividade pobre e repetitiva, eu sei disso, porque tenho medo de mostrar a minha vida como ela é de fato é. Estes medos variam por diversas razões diferentes, e uma das maiores é a de não ser injusto com ninguém. Eu não gosto de me fazer de vítima. Mesmo que, para quem me conhece, isso pareça algo totalmente incongruente com o dia a dia, porque quando eu falo sobre o que me dói, a minha tendência é sempre me colocar como a vítima da situação, mas dentro de mim, eu depois me condeno por isso, porque eu me excluo da minha própria responsabilidade de ter causado essa dor em mim mesmo.  Es
Eu vou acabar apagando esse texto mais pra frente. Eu sei que ninguém lê, só eu, mas eu preciso disso, dessa ilusão momentânea. Não, não quero mais me iludir. O inferno emocional em que eu me encontro agora, e a minha insistência de permanecer nele, é porque eu preciso suportar, pra me fortalecer. Dói agora, dói demais, e eu sei todos os motivos. Eu não preciso e nem precisarei jogar alguém no meu lugar pra que eu sinta um alívio momentâneo. Eu não vou precisar sacrificar um bode expiatório para os problemas que eu mesmo causei, apenas para que eu tenha um respiro temporário. Não subirei nas costas de ninguém, pra que assim eu atinja uma superfície falsa, e diga a mim mesmo: "estou assim por sua culpa". Não, de forma alguma. Estou assim por culpa minha mesmo, por permissões indevidas, por abrir as portas e deixar que qualquer coisa entre. Por uma falta de cuidado que um dia já tive, de selecionar melhor as coisas. Eu sinto raiva, mágoa, dor, e tão cedo, eu me vejo no mal
Quantas vezes mais descerei ao inferno Para ter a pele mutilada em intenso drama Que se reconstrua do zero e ressurja Sob a dura carcaça de uma dama? Eu sei que a vida é aprendizado, eu sei disso. Mas quantas vezes mais terei eu mesma que me destruir, a cada vez que deposito minha fé em algo, ter minha alma despedaçada, sim, dessa forma intensa e degenerada, porque já não sinto mais a sutileza das coisas, e tudo é isso como parece, um eterno grito, um eterno berro de dor, e enfim ressurgir mesmo, como pessoa nova? Eu estou cansada de ser uma pessoa nova, e estou cansada de ter meu coração apunhalado pelas imagens espontâneas dos meus desejos não realizados. Quando será que vou conseguir me perdoar por não conseguir te perdoar? E quando será que vou conseguir não sentir mais pena de mim mesma a cada vez que eu te ver numa foto ou receber por um acaso uma mensagem que não foi direcionada a mim? Eu tento, eu juro que tento te esquecer, tento fingir que você nunca existiu