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Torim e A Guerra Cósmica

Eu tive um aluno chamado Gabriel Mussolini. Antes de tudo, este não é um texto sobre a origem do sobrenome do ex ditador italiano. Não sei nada sobre o Benito Mussolini, mas imagino que o meu ex aluno seja o dimetrial oposto, afinal ele é um garoto extremamente doce e gentil, com uma imaginação fértil e aguçada. Ele é um sonhador, mas no bom sentido. Meu ex aluno, o Gabriel, escreveu um livro chamado Torim e a Guerra Cósmica. É um livro de fantasia com inspiração em mitologia grega misturada com modernidade. Mais ou menos o que o autor de Percy Jackson fez. Aqui vou fazer um adendo: eu não me oponho de forma alguma à literatura fantástica, pois a considero uma excelente porta de entrada para a leitura. Exsitem divisões até mesmo no meio da literatura, é inacreditável, porque enquanto há pessoas que defendem o ato da leitura como um hábito saudável e necessário, existem outros que sim, concordam com a ideia, contanto que a leitura seja restrita a determinado tipo de material. É

Depressão - Digressão 6 - O Louva Deus em Mim

Depressão é, a grosso modo, uma decisão. Mas é uma decisão forçada. Depressão é um acúmulo de emoções negativas que decidimos segurar, acreditando na ilusão de que possamos resolve-las um dia. Depressão é a doença emocional da culpa e do rancor. Vou citar uns exemplos a seguir: Quando alguém tem um problema conosco, se tivermos um pouco de bom senso, talvez uma dose de coragem, tentamos encontrar uma solução. Claro que há uma parcela muito grande que encontra como solução simplesmente virar as costas e fugir, mas não vem ao caso agora. Pedimos desculpas, tentamos agir bem, encontrar uma forma de harmonizar a situação, mas eventualmente essas tentativas não funcionam, e a tendência mais comum é o surgimento da culpa. Adotamos a culpa para nós mas também queremos encontrar um responsável. A falta de disposição para abandonar o ego e simplesmente deixar as coisas irem embora cria um acúmulo de emoções negativas, essas emoções negativas tornam-se uma carga que cedo ou tarde derrubarem

Haruki Murakami

Não sou de escrever texto de opinião, fico muito desconfortável. Opinião é uma coisa muito etérea, como vapor, como o ar mesmo. Não diria como a água, porque a água é líquida, e ela está sempre se movendo de um lado a outro, e cedo ou tarde entramos em contato com ela. Mas o ar não. O ar, apesar de ser algo bem real, afinal nós precisamos respirar, há vezes em que até nos esquecemos dele. Pelo menos é o que acontece comigo. Eu tenho alergias respiratórias, então só me lembro do ar quando ele está me causando algum desconforto. Acabo tendo que mudar de lugar. Assim é a opinião pra mim. O que isso tudo tem a ver com o título do meu texto? Quando eu era mais jovem as pessoas tinham dificuldade em compreender minhas ideias e opiniões; diziam de mim que eu não tinha uma noção clara sobre as coisas, que eu não entendia as coisas direito e que eu era uma pessoa burra, e isso me fazia sentir muita solidão. Convivi tanto com a solidão que acho que conheço muita bem a maioria dos asp

Crônicas do Não Saber 3

Enquanto o café fumegava, eu via, diante dos meus olhos, a dança aleatória do vapor, um vapor fino que só era possível existir por causa da luz que o trespassava, diante dos meus olhos. Eu via o café fumegante diante de mim enquanto segurava uma xícara na altura do nariz, parado e imune ao mundo exterior. Não estava tão imune ao mundo externo, mas era como pretendia estar. - O que está fazendo? - perguntava uma voz. Vê que eu notei que era apenas "voz"? Podia ter dito "me perguntava um som" e assim, seria ainda mais enigmático, mas na minha consciência já estava bem estabelecida a ideia de que palavras só podem ser emitidas por vozes, e além do mais, eu estava absorvido em mim mesmo com tamanha distância do mundo, como se houvesse cavado um buraco em mim e me escondido, enquanto meu corpo agia apenas como um recipiente para a normalidade da vida cotidiana. Porém eu deveria estar fazendo algo atípico, pois alguém usava a voz como um gancho que me arrancava de de

Depressão - Digressão 5 - O Curioso Japão

Eu gostaria de falar um pouco sobre a perspectiva superficial a respeito da depressão, sobre etereotipos culturais, sobre valor cultural e sobre comparação cultural. Não sei exatamente como começar então vou simplesmente deixar o fluxo de pensamento seguir. Um texto precisa de contexto, como uma base, ele precisa de uma apresentação ao leitor, para que ele entenda, como se eu fosse um guia através dos corredores imensos e repletos de portas, em que eu digo "venha, é por aqui, agora venha por aqui, e depois siga comigo por aqui", e em cada porta e corredor que passamos, imagens vão surgindo, para quando nós possamos finalmente chegar em nosso destino, o leitor pense: "ah sim, entendi porque você me trouxe aqui" porque todo o trajeto tenha feito sentido para ele. Mas às vezes este trajeto não fica tão claro assim na minha mente, e não sei como construí-lo para que o destino faça sentido, de certa forma, continue seguindo, eu vou tentar fazer com que as coisas ten

Depressão - Digressão 4 - As Cartas que Salvaram a Minha Vida

Este texto é direcionado aos meus alunos, aqueles que foram meus alunos de inglês no ano de 2017 na Escola São Luís Anglo. Eu me direciono a todos eles. Talvez eles se recordem quando no final do ano eu passei por um período bem vísivel de instabilidade emocional. Aquela instabilidade foi originada por um acúmulo de situações que vinham testando a minha resistência há algum tempo, e são tantas as situações que não compensa listá-las aqui, e talvez nem venha ao caso. Mas o que me segurava e me dava força para tudo o que vinha acontecendo era especificamente um namoro. E quando, em Setembro de 2017, aquele relacionamento de três anos  acabou, eu perdi completamente o chão, como se tivessem puxado a última parte de uma casa que já estava prestes a desmoronar. Antes disso, eu não saberia dizer se meu desequilíbrio era tão visível assim ou se eu ainda conseguia disfarçar, mas depois do fim do meu namoro as coisas simplesmente perderam o rumo pra mim. Foi como se toda a pressão que eu

Amor de Lama

Minha Josefa Que sempre que enche o copo de água O copo transborda. Água que é só pras crias Acaba que sobra pra gente Que gente? Toda gente. Meu José tapa copo com terra Mas tapa o copo mesmo assim, sem buraco. Que sempre que enche o copo de terra O copo transborda. Terra que era pra ser só pras crias Acaba que sobra pra gente. Que gente? Pra toda gente. Água de Zefa Terra de Zé Lama da gente Pra mais que gente.

Crônicas do Não Saber: 2

No último Sábado a minha namorada esteve aqui com o filho, um menino ainda na primeira infância. Todos aqui parecem ter gostado do garoto, inclusive meus pais. Quando ele chega aqui eu tenho a sensação de que a casa funciona em razão da presença dele, como se todos os cômodos e móveis se dispusessem para o bem da presença dele. Meus pais, cada um a seu modo, ficam animadíssimos. Minha mãe não pouca comentários de ternura com sua voz chorosa de mãe que tem o coração derretido. Meu pai não consegue esconder por trás da usual expressão dura de nordestino trabalhador aquele sorriso de felicidade e paz por causa do menino. Eu suspeito que brote este sentimento neles por causa de uma necessidade biológica de herança genética, e por nenhum dos três filhos, meus irmãos e eu, termos ainda a menor pretensão de oferecer-lhes netos, eles calam essa angústia. Temos uma geração diferente da deles. Se fosse em outra época eles nos cobrariam diariamente tal como um cobrador de dívidas não oficial ba

Crônicas do Não Saber: 1

Eu não compactuo com o lunatismo conspiratório de Olavo de Carvalho, mas eu seria desonesto demais se não desse a ele os créditos por uma parte do meu amadurecimento. Confesso que só realmente dei atenção a ele por causa das gritarias de confissão desesperada de seus opositores na internet, trazendo na figura dele a imagem de um debochado profeta do caos, caso não sigam o que ele tanto tem a alertar. No prefácio do livro Admirável Mundo Novo, versão da Editora Globo, de 2001, ele fala sobre a condição de saúde de Aldous Huxley, e aqui recrio as próprias palavras de Olavo: "Símbolo e resumo de sua trajetória vital é a luta de décadas que ele empreendeu contra a cegueira. A doença que aos 17 anos reduziu sua visão a aproximadamente um décimo do normal não foi para ele, como provavelmente o seria para muitos escritores numa era de egocentrismo e autopiedade, ocisão de especulações vãs sobre a maldade do destino." É até curioso que Olavo tenha escrito desta

Depressão e Narcisismo

Há hoje em dia uma tendência de pessoas se declararem depressivas ou ansiosas, publicamente, alegando a justificativa de que desta forma estarão representando em nome daqueles que não perceberam ainda os sintomas da doença, alertando a sociedade para os comportamentos que podem despertar e agravar o problema. Porém, a forma como isso é feito, essa atitude de "sair do armário" e reconhecer a depressão, isso não me parece de forma alguma uma atitude altruísta. Eu a encaixo, em grande parte, em mais um item da grande coleção do desespero narcisista da nossa época. Não tenho evidências, mas as redes sociais estão aí para quem quiser buscá-las, e como isso é apenas um relato, uma forma de expressar desgostos da minha rotina de pensamento, então não vou me dar ao trabalho de buscá-las. Eu sei que é uma atitude intelectual covarde e preguiçosa, mas não escrevo este texto na posição de criar uma teoria generalista, ditando regras, isso é nada mais do que uma observação, reconhecendo