Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Bate Papo

Depressão - Digressão 5 - O Curioso Japão

Eu gostaria de falar um pouco sobre a perspectiva superficial a respeito da depressão, sobre etereotipos culturais, sobre valor cultural e sobre comparação cultural. Não sei exatamente como começar então vou simplesmente deixar o fluxo de pensamento seguir. Um texto precisa de contexto, como uma base, ele precisa de uma apresentação ao leitor, para que ele entenda, como se eu fosse um guia através dos corredores imensos e repletos de portas, em que eu digo "venha, é por aqui, agora venha por aqui, e depois siga comigo por aqui", e em cada porta e corredor que passamos, imagens vão surgindo, para quando nós possamos finalmente chegar em nosso destino, o leitor pense: "ah sim, entendi porque você me trouxe aqui" porque todo o trajeto tenha feito sentido para ele. Mas às vezes este trajeto não fica tão claro assim na minha mente, e não sei como construí-lo para que o destino faça sentido, de certa forma, continue seguindo, eu vou tentar fazer com que as coisas ten

Depressão - Digressão 4 - As Cartas que Salvaram a Minha Vida

Este texto é direcionado aos meus alunos, aqueles que foram meus alunos de inglês no ano de 2017 na Escola São Luís Anglo. Eu me direciono a todos eles. Talvez eles se recordem quando no final do ano eu passei por um período bem vísivel de instabilidade emocional. Aquela instabilidade foi originada por um acúmulo de situações que vinham testando a minha resistência há algum tempo, e são tantas as situações que não compensa listá-las aqui, e talvez nem venha ao caso. Mas o que me segurava e me dava força para tudo o que vinha acontecendo era especificamente um namoro. E quando, em Setembro de 2017, aquele relacionamento de três anos  acabou, eu perdi completamente o chão, como se tivessem puxado a última parte de uma casa que já estava prestes a desmoronar. Antes disso, eu não saberia dizer se meu desequilíbrio era tão visível assim ou se eu ainda conseguia disfarçar, mas depois do fim do meu namoro as coisas simplesmente perderam o rumo pra mim. Foi como se toda a pressão que eu

Depressão e Narcisismo

Há hoje em dia uma tendência de pessoas se declararem depressivas ou ansiosas, publicamente, alegando a justificativa de que desta forma estarão representando em nome daqueles que não perceberam ainda os sintomas da doença, alertando a sociedade para os comportamentos que podem despertar e agravar o problema. Porém, a forma como isso é feito, essa atitude de "sair do armário" e reconhecer a depressão, isso não me parece de forma alguma uma atitude altruísta. Eu a encaixo, em grande parte, em mais um item da grande coleção do desespero narcisista da nossa época. Não tenho evidências, mas as redes sociais estão aí para quem quiser buscá-las, e como isso é apenas um relato, uma forma de expressar desgostos da minha rotina de pensamento, então não vou me dar ao trabalho de buscá-las. Eu sei que é uma atitude intelectual covarde e preguiçosa, mas não escrevo este texto na posição de criar uma teoria generalista, ditando regras, isso é nada mais do que uma observação, reconhecendo
Existe uma diferença não muito clara entre ser feliz e viver superficialmente. O estardalhaço que se faz por causa do mínimo, a fim de propagandear uma vida a plenos pulmões, é apenas vitrine e estatística. Na era da pós verdade não me surpreende que tudo seja fingimento, desde a felicidade para esconder um vazio, ou a depressão para apelar a uma complexidade inexistente. Antes eu preferia a alienação. Depois a verdade. Logo busquei a realidade, e termino por viver no sonho. Sonhar me permite viver sem o peso na consciência de que estou em débito com o mundo. Vivo a passos largos para a desentrega.

Ciência da Humanidade

Peço desculpas ao rapaz da IBM que estava lendo o livro de Richard Dawkins, Deus: Um Delírio, e que foi rapidamente atacado por mim, por falta de coragem de encarar que existem realidades diferentes da minha. A matemática sempre me fascinou. Não só a matemática, mas tudo o que a usa como ferramenta, os números, a filosofia, a física, a biologia, a química, a engenharia, a economia, as ciências da informação, as ciências dos softwares, as linguagens de programação, a música, a pintura, a astronomia, a poesia, a eletricidade, tudo o que se originou da harmonia dos números, tudo isso pra mim é arte. Se existe algo que já me incomoda faz muito tempo nos sistemas educacionais do Brasil é essa distinção cada vez mais forte entre Ciências Humanas e Ciências Exatas. Eu ouço essa dissociação como o som de uma facada no meu peito, isso realmente me dói e me incomoda. Para mim tudo é ciência humana, até mesmo a matemática. Eu sempre me lembro da frase de Darcy Ribeiro que disse certa vez

Argumentum ad antiquitatem: apelo à tradição

Nada resiste melhor ao teste do tempo do que a sabedoria. Este pensamento me cruzou a mente quando eu estava, nesta manhã, tomando meu café e verificando se minhas roupas no varal estavam completamente secas. Pendurei as roupas ontem à noite, e imaginei que nesta manhã elas já estariam prontas pro uso, mas não, as extremidades ainda estavam úmidas. Ninguém se sente confortável vestindo roupas úmidas. Queremos o calor e o conforto. Há coisas que são mais importantes que as outras, e há coisas que são menos importantes que as outras, mas não é possível, jamais, determinar o que são estas coisas. O que determina é o tempo, é a época, a condição, a situação. Podemos dizer que alguma coisa sobressai às outras, e caímos nos erros das nossas máximas, que quase sempre, comumente, talvez, ou porque não, por uma necessidade de conforto, elas se confundem com a nossa máxima de vida, o nosso idealismo pessoal. Desde cedo somos ensinados, pelo menos na minha realidade social, a renegar

Garota Parnasiana

Aproveitando que esqueci de desativar da minha agenda que esta era a semana do seu aniversário. Que lembrança péssima. Caí na realidade de que você não é tão incrível quanto eu pensei que fosse. Você é rasa. Nada do que faz tem profundidade ou essência de verdade, é apenas o espetáculo pelo espetáculo, o que casa bem com essa geração neo Parnasiana que não sabe o significa do de conquistar, apenas de exigir. Ser notável apenas por ser conhecido, pelo externo, pelo vazio e falta de propósito. E é com essa correspondência que a verdadeira arte há de ser enterrada sob quilômetros de futilidade e falsidade.  Mas é isso, esse mun do foi sempre um espetáculo muito sem substância do qual você é, pra mim, hoje, uma grande representante. Esta geração vazia e sem propósito que se veste de escândalo após escândalo atrás de escândalo, escondendo suas mais perversas personalidades antes de um barulho qu e desorienta, e fica difícil de raciocinar num pensamento de resposta. E a ausência de r

Depressão Parte 3 - 2014 a 2015 (o que veio depois da separação)

É difícil compor o que veio a seguir, mas se você tem mais de 25 anos, e se você não vive preso nas mentiras de um Instagram ou Facebook, se você não molda os acontecimentos pra que caibam no perfil de uma rede social, então você deve saber, a esta altura, que a vida é repleta de revezes. A expectativa obsessiva nos faz lamentar estes revezes, porém, hoje em dia, eu os agradeço, e até espero que mais deles venham, porque é assim que sabemos que não podemos viver dentro de um caminho pré estabelecido. Estes revezes são nada mais do que pequenos pedaços de realidade que nos caem no colo como uma forte chuva de granizo, alguns deles nos acertam na cabeça, e doem, nos fazem acordar, ver as coisas como de fato são. Pois é, a Kátia sofreu duas perdas, uma mais grave do que a outra, o que a abalou emocionalmente, e alimentou ainda mais um antigo sonho dela, de morar fora de São Paulo. Eu tentei segurar este abalo com tudo o que pude oferecer na época, mas eu sabia o quão imaturo e despre

Maestro João Carlos Martins e a valorização da tragédia na TV

Minha mãe estava me contanto hoje sobre o Maestro João Carlos Martins, que visitou um programa de TV aí (não sei o nome, não assisto TV há muitos anos). O maestro vive um drama pessoal, é um pianista, apaixonado pelo ofício, tem na música a sua própria motivação para viver, e por causa de um assalto, onde sofreu uma pancada na cabeça, causou-lhe um problema neurológico que o impede de ter o movimento natural das mãos, quase impossibilitando que toque piano. Neste programa ele começa a tocar uma música no piano, apenas com o dedo indicador de cada mão, e em dado momento, começa a chorar: o motivo, um jovem promissor, da música (segundo minha mãe) morrera por causa de uma tragédia de violência. Minha mãe falava isso com uma voz piedosa e uma expressão de pena, e se via tocada por isso. A TV tomou tamanha proporção na vida das pessoas dos anos 50 a 2000, que esta geração desse período de 50 anos foi completamente convencida a dar qualquer situação nessa tela como verdadeira.

21 anos sem você...

O que faço agora é um grande absurdo, escrever um texto para alguém que não está mais aqui. É próprio de um lunatismo total, porque não, você não está em parte alguma desse dito além, tão fruto da imaginação humana, olhando pra mim, justamente pra mim, apenas porque agora estou pensando em você. Mas a saudade e a falta que você faz me enfraquece o espírito e faz com que eu caia nessas bobagens que às vezes nos rendemos, a precisão para não enlouquecer de vez. Já não estaríamos loucos o suficiente apenas por redigir por algo que não existe mais? De qualquer forma, eu não faço ideia da pessoa que você seria hoje, se ainda estivesse aqui. Não faço ideia se seríamos amigos ainda, se estaríamos perto um do outro. Dado o meu histórico social, é muito provável que não. É bem provável que você entraria pra minha lista da saudade, essa amargurada lista que eu pretendo esquecer. Nostalgia é o refúgio de uma mente que se acovarda com o presente. A vida é o que é. Mas ora, eu quero qu

Depressão - Digressão 2

Estava pensando sobre essa ideia de que a depressão é uma doença social, pode estar ligada à toda dinâmica de relações entre as pessoas. Normalmente uma pessoa torna-se atraente e interessante para outras, não só no sentido sexual, por causa de seus atributos e costumes. Procuramos sempre por pares, por pontos de identificação. Buscamos também pessoas que possam nos acrescentar como seres humanos, afim de prosperar dentro da nossa comunidade. É uma ideia bastante primitiva. Uma pessoa normal começa o seu dia em busca dos seus afazeres. Estes afazeres estão atrelados aos seus objetivos pessoais, uma profissão ou estudo. A partir desses afazeres temos como resultado algum tipo de produção, uma das maneiras usadas para comunicar nossas ideias e emoções. Estas ideias podem coincidir com as ideias e emoções de outras pessoas, e aqui temos um ponto de identificação entre pares, formando uma relação. Parte da depressão tem a ver com isolamento social, quando a pessoa sente uma di

Depressão - Parte 2 (2000- 2014)

Procurei a psicóloga, e tentei reiniciar o tratamento que eu havia interrompido em 2010. É aqui que a memória me trai, então muito do que eu vou dizer pode ser apenas fantasia minha, pra tentar não ir diretamente aos motivos da minha dor emocional. E por isso é tão complicado falar de depressão da perspectiva do doente, porque o doente depressivo está longe de ser um realista. Ele sempre se vitimiza, quando as razões da doença tem mais origem numa permissividade dos eventos, bons ou ruins, e numa falta de imposição de ser. Pelo menos é como eu entendo hoje em dia. Comecei dizendo sobre a minha separação, e, novamente, os motivos são totalmente parciais, pois existe também a dor da separação do outro lado, da minha ex-companheira. Vamos chamá-la da Kátia. A Kátia foi um romance que surgiu na adolescência. Nos conhecemos em 2000, eu acho, numa festa de família. Eu tinha quase 15 anos e ela 19. A razão por eu ter me apaixonado foi a das mais banais para alguém que sofria de uma p

Depressão - Digressão

Por que eu devo adiar a dor dos outros enquanto a minha perdura? Por que eu devo permanecer aqui para que apenas as pessoas não sintam, neste momento, a confusão inexplicável de perder alguém com quem elas se importam? E por que eu importo? Para que eu sirvo? Pelo que eu vivo? Pelo essencial da sobrevivência, da evolução, e das razões para dar como herança o gene útil pela vida, eu não sou de grande valia. Eu não sou um grande pensador, nem um grande inventor, ou uma pessoa chave no direcionamento ou reinvenção da civilização. Essas pessoas que as pessoas tendem a chamar de heróis, ou gênios. Eu não sou nada disso. Eu não sou santo, não sou humanitário, nem mesmo um mentor. Eu não sou nada. Já me foram dadas mais do que evidências. Eu sou apenas um peso morto. Então, por que? Por que continuar? Por que persistir no inevitável, de que não vai dar em nada? Quem melhor para saber dos desígnios da minha própria vida senão eu? E eu sei que não vai dar em nada. Eu sou menos do que um sopro

Depressão - Parte 1 (2014)

Decidi hoje começar uma série sobre meu histórico de depressão. Talvez como forma de terapia, ou como uma tentativa de elucidar ainda mais, com exemplos reais (a partir da minha perspectiva parcial) das situações que me trouxeram até onde estou hoje. Decidi escrever estes relatos da forma mais direta e menos subjetiva possível, porque eu tenho um vício em subjetividade, mesmo que uma subjetividade pobre e repetitiva, eu sei disso, porque tenho medo de mostrar a minha vida como ela é de fato é. Estes medos variam por diversas razões diferentes, e uma das maiores é a de não ser injusto com ninguém. Eu não gosto de me fazer de vítima. Mesmo que, para quem me conhece, isso pareça algo totalmente incongruente com o dia a dia, porque quando eu falo sobre o que me dói, a minha tendência é sempre me colocar como a vítima da situação, mas dentro de mim, eu depois me condeno por isso, porque eu me excluo da minha própria responsabilidade de ter causado essa dor em mim mesmo.  Es