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Mostrando postagens com o rótulo Confissões

Depressão Parte 3 - 2014 a 2015 (o que veio depois da separação)

É difícil compor o que veio a seguir, mas se você tem mais de 25 anos, e se você não vive preso nas mentiras de um Instagram ou Facebook, se você não molda os acontecimentos pra que caibam no perfil de uma rede social, então você deve saber, a esta altura, que a vida é repleta de revezes. A expectativa obsessiva nos faz lamentar estes revezes, porém, hoje em dia, eu os agradeço, e até espero que mais deles venham, porque é assim que sabemos que não podemos viver dentro de um caminho pré estabelecido. Estes revezes são nada mais do que pequenos pedaços de realidade que nos caem no colo como uma forte chuva de granizo, alguns deles nos acertam na cabeça, e doem, nos fazem acordar, ver as coisas como de fato são. Pois é, a Kátia sofreu duas perdas, uma mais grave do que a outra, o que a abalou emocionalmente, e alimentou ainda mais um antigo sonho dela, de morar fora de São Paulo. Eu tentei segurar este abalo com tudo o que pude oferecer na época, mas eu sabia o quão imaturo e despre

Maestro João Carlos Martins e a valorização da tragédia na TV

Minha mãe estava me contanto hoje sobre o Maestro João Carlos Martins, que visitou um programa de TV aí (não sei o nome, não assisto TV há muitos anos). O maestro vive um drama pessoal, é um pianista, apaixonado pelo ofício, tem na música a sua própria motivação para viver, e por causa de um assalto, onde sofreu uma pancada na cabeça, causou-lhe um problema neurológico que o impede de ter o movimento natural das mãos, quase impossibilitando que toque piano. Neste programa ele começa a tocar uma música no piano, apenas com o dedo indicador de cada mão, e em dado momento, começa a chorar: o motivo, um jovem promissor, da música (segundo minha mãe) morrera por causa de uma tragédia de violência. Minha mãe falava isso com uma voz piedosa e uma expressão de pena, e se via tocada por isso. A TV tomou tamanha proporção na vida das pessoas dos anos 50 a 2000, que esta geração desse período de 50 anos foi completamente convencida a dar qualquer situação nessa tela como verdadeira.

21 anos sem você...

O que faço agora é um grande absurdo, escrever um texto para alguém que não está mais aqui. É próprio de um lunatismo total, porque não, você não está em parte alguma desse dito além, tão fruto da imaginação humana, olhando pra mim, justamente pra mim, apenas porque agora estou pensando em você. Mas a saudade e a falta que você faz me enfraquece o espírito e faz com que eu caia nessas bobagens que às vezes nos rendemos, a precisão para não enlouquecer de vez. Já não estaríamos loucos o suficiente apenas por redigir por algo que não existe mais? De qualquer forma, eu não faço ideia da pessoa que você seria hoje, se ainda estivesse aqui. Não faço ideia se seríamos amigos ainda, se estaríamos perto um do outro. Dado o meu histórico social, é muito provável que não. É bem provável que você entraria pra minha lista da saudade, essa amargurada lista que eu pretendo esquecer. Nostalgia é o refúgio de uma mente que se acovarda com o presente. A vida é o que é. Mas ora, eu quero qu

Depressão - Digressão

Por que eu devo adiar a dor dos outros enquanto a minha perdura? Por que eu devo permanecer aqui para que apenas as pessoas não sintam, neste momento, a confusão inexplicável de perder alguém com quem elas se importam? E por que eu importo? Para que eu sirvo? Pelo que eu vivo? Pelo essencial da sobrevivência, da evolução, e das razões para dar como herança o gene útil pela vida, eu não sou de grande valia. Eu não sou um grande pensador, nem um grande inventor, ou uma pessoa chave no direcionamento ou reinvenção da civilização. Essas pessoas que as pessoas tendem a chamar de heróis, ou gênios. Eu não sou nada disso. Eu não sou santo, não sou humanitário, nem mesmo um mentor. Eu não sou nada. Já me foram dadas mais do que evidências. Eu sou apenas um peso morto. Então, por que? Por que continuar? Por que persistir no inevitável, de que não vai dar em nada? Quem melhor para saber dos desígnios da minha própria vida senão eu? E eu sei que não vai dar em nada. Eu sou menos do que um sopro
Eu vou acabar apagando esse texto mais pra frente. Eu sei que ninguém lê, só eu, mas eu preciso disso, dessa ilusão momentânea. Não, não quero mais me iludir. O inferno emocional em que eu me encontro agora, e a minha insistência de permanecer nele, é porque eu preciso suportar, pra me fortalecer. Dói agora, dói demais, e eu sei todos os motivos. Eu não preciso e nem precisarei jogar alguém no meu lugar pra que eu sinta um alívio momentâneo. Eu não vou precisar sacrificar um bode expiatório para os problemas que eu mesmo causei, apenas para que eu tenha um respiro temporário. Não subirei nas costas de ninguém, pra que assim eu atinja uma superfície falsa, e diga a mim mesmo: "estou assim por sua culpa". Não, de forma alguma. Estou assim por culpa minha mesmo, por permissões indevidas, por abrir as portas e deixar que qualquer coisa entre. Por uma falta de cuidado que um dia já tive, de selecionar melhor as coisas. Eu sinto raiva, mágoa, dor, e tão cedo, eu me vejo no mal
Quantas vezes mais descerei ao inferno Para ter a pele mutilada em intenso drama Que se reconstrua do zero e ressurja Sob a dura carcaça de uma dama? Eu sei que a vida é aprendizado, eu sei disso. Mas quantas vezes mais terei eu mesma que me destruir, a cada vez que deposito minha fé em algo, ter minha alma despedaçada, sim, dessa forma intensa e degenerada, porque já não sinto mais a sutileza das coisas, e tudo é isso como parece, um eterno grito, um eterno berro de dor, e enfim ressurgir mesmo, como pessoa nova? Eu estou cansada de ser uma pessoa nova, e estou cansada de ter meu coração apunhalado pelas imagens espontâneas dos meus desejos não realizados. Quando será que vou conseguir me perdoar por não conseguir te perdoar? E quando será que vou conseguir não sentir mais pena de mim mesma a cada vez que eu te ver numa foto ou receber por um acaso uma mensagem que não foi direcionada a mim? Eu tento, eu juro que tento te esquecer, tento fingir que você nunca existiu
Amaldiçoado é o coração Onde a felicidade torna-se ironia E é só isso o que eu sou capaz de escrever. Este espaço que é acessado por uns raros anônimos, mesmas pessoas que eu sequer sei se dedicam tempo lendo as coisas que tenho pra escrever, passou por muitas transições. Ele pode ser, por assim dizer, um registro de mim mesmo. Não seria humano a pessoa que não quisesse deixar um legado. E em algum ponto da vida, queremos apenas apagar os indícios da nossa existência. Seremos apenas um mero punhado de palavras que vão fazer sentido pra algumas pessoas específicas, ou não. Seremos imagens, sons, cheiros, nosso legado é isso, e nada além. Não ter mais o apreço pela necessidade de ser e de transformar, é quando muito se fez ilógico. E é isso, de fato, os caminhos da minha própria vida me trouxeram, por uma pessoa totalmente improvável, esta ideia de Albert Camus: o segredo do sentido da vida está em abraçar o absurdo que ela é. Eu nunca li nada de Albert Camus, e só pude as
Eu queria ter um motivo para chorar, mas eu acho que não tenho. Eu choro, constantemente, e quase que diariamente. Eu choro pelos cantos, ou debaixo da coberta, ou no chuveiro. Eu choro porque o choro vem, mas eu não sei porque ele vem, mas depois bate um sentimento de culpa. Por que estou chorando? Eu não estou doente, não tenho uma forca financeira ao redor do meu pescoço, minha família tem saúde, eu também tenho saúde. Eu me cerco de pessoas que tem verdadeiros problemas, doenças, perderam entes queridos, e eu aqui, com a vida intacta, chorando, triste, jogado pelos cantos. Mas algo me acontece, uma pressão muito forte, algo dentro de mim que me diz que eu devo continuar, devo seguir. Algo em mim me impulsiona e diz que mesmo fraco, eu devo continuar andando. Mas não é algo motivacional, é apenas um sentimento de culpa e vergonha. Eu não sei mais como explicar para as pessoas uma coisa muito simples de se entender, se mudarmos o objeto de análise: eu não sinto mais prazer na vida.

Tropical

Entardeceu cedo esta noite, pois já ouço o sino das dezessete horas. É tarde demais, diria, pois já ouço o badalar dos sinos. Quem badala o sino? E a sina? É assim mesmo. Tem horas que a vida é feita de um monte de frases curtas. Deixa. Para. Olha. Só. Arre. Esquece... Essa coisa que aquece de vez em quando é verdade ou só brincadeira de ser feliz? É tipo um calorzinho assim no peito, mas esse calorzinho é esperança? Por que o amargo é tão certo? Por que o doce é vindo de um processo tão difícil e complicado? A natureza já nos apresenta isso, pois existem mais desertos quentes e frios do que florestas tropicais, mas a gente insiste em ganhar nosso lugar à sombra. Assim que souber da sina, assina embaixo e só espera o sino. Essa hora, tarde demais, parece que as coisas funcionam assim, com trocadilhos pobres, mas deixa. E se for só isso mesmo? Queria chegar no oitavo andar, mas e se nasci para o segundo, porque não hei de por a minha poltrona num lugar melhor onde bata luz, sol

Mendigo

Alguém me atire na cabeça, exploda meus miolos, de repente a dor passa. Essa dor de um desejo que não pode ser saciado, porque eu sou um ser de componente pobre, e tudo o que minha vida se resume é a isto, uma série de desejos, um empilhado de desejos, pra me disparar algumas substâncias químicas em meu cérebro e criar-me a ilusão de que eu não sou um miserável solitário que daqui não levara nada, a não ser uma dor sem sentido na hora da morte. Alguém por favor acabe logo com isso, já que eu não posso causar a fatalidade em mim mesmo para não trazer uma tristeza incompreendida às pessoas que são egoístas demais pra entender o que eu carrego aqui dentro. Enquanto desfrutam da minha máscara, eu estou aqui preso em mim mesmo, encarcerado nessa falta de vontade de me superar, porque eu estou cansado. Cheguei num ponto onde não sinto mais expansão, sinto um tédio da estagnação da vida. Nada cresce, nada diminui, nada vai para lugar algum, e isso está acabando comigo aos poucos. O paras

Sangra

Acho que tem alguém me olhando por aquela janela. Shh escuta. Nossa, escutar o que? Ele não tá nem fazendo barulho... É que as coisas vem me deixando assim mesmo, desorientada. Já ouviu da última? Que quem comete a gafe é que demanda piedade e exige perdão? O perdão agora é assim, saldo, liquidado, sem luto e sem nada. Que se exploda sua alma que sangra, se é sangue de dor, de hímen, de menstruação, daquele arranhão nas costas daquela noite... Se é feito direito é amor, mas se não, é açoite, ainda que seja, é sangue. Como saber distinguir? Cospe e bate na minha cara igual uma... Essa carapuça que não me serve mais, porque na boa, cansei de dar. Andei dando pra caramba por aí, dei mais que prostituta desesperada, mas cadê os meus trocados? Já viu prostituta depois do sexo, fingindo que é feliz, forçando pra ser sua amiga? Sou eu. Mas eu sei que quando você paga, veste a roupa e sai fora, você só vira olha: que gostosa, mas é puta. Todos somos, mas uns lucram mais do q
A santa paciência da vida. Esta paciência que em tudo a gente espera, e nada acontece. Grudaram o meu cérebro no teto de uma Igreja Basílica, daquelas altas, em que nos sentimos um grande nada. As coisas simplesmente pararam de fazer sentido, e agora, com pessoas tentando nos trazer de volta ao limiar da ignorância, com um negacionismo da fatídica falta de sentido da vida, isso me cansa ainda mais. Parece que me querem fazer crer que as coisas que eu sei, eu soube erradas, essa atitude fajuta de reescrever a história apenas para comprovar que o que já foi comprovado não pode de fato ser comprovado se for fruto de uma história inventada. Mas como fazer para superar toda essa questão, toda essa problemática? É como se eu visse além da nuvem e pensasse: ok, aqui é fresco, mas o que vem depois? O querer depois, essa insistência da vida. Santa paciência enquanto eu vivo nessa impotência servil da minha condição limitada. Mesmo que algumas pessoas não tenham ciência disso, d

A Versão Mais Perfeita de Si Mesmo?

Você é a versão mais perfeita de si mesmo. Essa frase tacanha e clichê apareceu na minha cabeça hoje, e me pôs a pensar, como tudo o que me põe a pensar. Estamos sempre buscando algo fora, nunca dentro. Buscamos a Deus, a um amigo, um amor, uma vida nova, novos ares, paisagens e cheiros diferentes, gostos diferentes, sabores diferentes... chamam isso de vida, ou de viver. Isso se mescla à vontades momentâneas até o momento que torna-se completamente compatível com a nossa capacidade de adaptação ao ambiente, até que sintamos a necessidade de fazer algo novo. Mas mesmo assim, temos medo. Temos medo do amor. Temos medo do ódio. Temos medo do novo. Temos medo do velho. Temos medo da vida. Temos medo da morte. Temos medo da alegria. Temos medo da tristeza. Temos medo da raiva e do perdão. Temos medo do outro e temos medo de nós mesmos. Temos medo de tentar e também de ficar parado. Temos medo de mover as coisas do lugar ou de deixar tudo como estava antes. Temos medo de ficar

A Luz da Montanha

"Eu não vou solucionar a situação de vida dessas crianças, eu não sou governo. Eu adoraria mudar esse bairro, essa situação, mas eu não posso resolver o problema deles sozinho, estou aqui pra contar histórias, levá-los pro mundo de faz de contas e tirá-los um pouco da sua realidade dura" - Professor Jairo Esta é uma citação que veio após o professor compartilhar um pouco da sua experiência de Contador de Histórias em um projeto Nossa Senhora de Caropita com crianças carentes. Isso me faz pensar do quanto estamos infelizes com a nossa condição social e tendemos a projetar essa insatisfação no indivíduo, nos esquecendo dos principais culpados, os desgraçados que estão no governo. Essa divisão ideológica que assola as nossas mentes é o principal alimento desses abutres que nos bicam nas costas quando não estamos percebendo. Como professor, eu repenso a minha função. Repensar é fácil, o desafio é vivê-la. Sou professor, não sou a solução. Minha função é, quan

A Internet aproxima as pessoas? Ou um desabafo de uma pessoa que não aguenta mais de tanta solidão.

Eu sou um grande crítico de iniciar postagens com interrogações, porque isso passa a impressão de que eu não tenho certeza do que estou dizendo, mas para o caso a seguir, isso faz jus ao que eu quero dizer. Não tem jeito, mas nós, jovens dos anos 80 e 90, que passamos boa parte de nossas vidas sem ter noção de que era possível um futuro em que as relações humanas interagiriam por intermédio de computadores, é difícil ainda aceitar um fato: vivemos a era online e isso não vai deixar de ser parte do cotidiano humano tão cedo. E por anos a fio eu tenho escutado a premissa do porquê a internet é algo positivo para nós: ela aproxima as pessoas. Mais especificamente, as redes sociais, e-mails, canais de streaming, tudo nos dá a ilusão de que o nosso amigo que mora em outro continente está logo ali do nosso lado. Agora vamos falar um pouco sobre o que é estar perto. Estar perto no que diz respeito a termos acessos a fotografias selecionadas ou pensamentos recortados de um dia

Vamos falar sobre o feminismo

Vamos falar de feminismo. Sempre que me perguntam sobre o feminismo, eu digo que não consigo ver coerência em um homem ser feminista. Feminismo é uma luta da mulher, é uma busca pelos direitos igualitários em relação ao homem, dentro de uma sociedade em que homens prevaleceram por séculos. O máximo que posso fazer é dar o meu apoio. Eu percebo que a minha sociedade brasileira tem uma inteligência social muito limitada no que diz respeito às questões de relação com outros grupos, uma vez que preciso ver oposições falaciosas para desaprovar e injustificar lutas sociais como feminismo (mas e quando a mulher chama o homem de gostoso?) e racismo (se um negro me chamar de boneco de neve, isso não é racismo?). Tal postura é covarde, ignorante e falaciosa. Feminismo e Consciência Negra não existem para contrapor a predominância e tomar o lugar do Machismo e do Racismo, mas sim para acabar com isso de uma vez por todas. Agora como o machismo é prejudicial até mesmo para os homens?

Carta Aberta a um certo Professor Japonês Indignado

Eu sou filho de nordestinos, paulista, mas me considero mais nordestino do que paulista, e é graças ao nosso jornalismo fajuto, que há mais de 14 anos envenena a cabeça dos seus cidadãos, parece que a minha descendência anda vindo com um certo falso DNA: sou petista, sou vagabundo, uso bolsa-família, roubamos o emprego de algum paulista aí. Não sou nada disso. Eu não sou um estereótipo. Você é de humanas, não deveria se basear em estereótipos, pelo contrário, sua licenciatura tão sofrida deveria ter te ensinado a ser um investigador incansável, e saber analisar caso a caso. Julgar as pessoas por um DNA pré-estabelecido é o que fazem os números, e isso apenas para o levantamento da estatística. Até mesmo uma pesquisa vox populi carrega mais humanidade do que essa verborragia grotesca e sórdida. Pois bem, a você que enche a boca para falar numa sala de aula, cheia de adolescentes em formação, todas as ilusões que você acredita serem verdades, que não passam de um alívio imediato

“Não contendas com alguém sem razão, se te não tem feito mal”. (Pv. 3:30)

“Não contendas com alguém sem razão, se te não tem feito mal”. (Pv. 3:30) Mas para muitos evangélicos que conheci isso era uma desculpa para pairar na alienação e na preguiça de lutar pelo seu próximo. Quando me questionam porque abandonei completamente a religião eu deixo claro que me causa repulsa o individualismo e o consumismo do cristão, e mais me causa repulsa ainda a sua associação de benção com bens materiais. Mas nada disso me deixa mais decepcionado do que o fato de não assumirem tal comportamento. Se Jesus fosse realmente conhecido de alguns, seria odiado pela Igreja e seus fiéis seguidores (da Igreja, não de Jesus), pois ele lutou pelo que acreditava, até o fim. Não seria ele alguém que participou e causou muitas contendas com um fim? Existe uma censura silenciosa, agressiva e injusta pairando nas Igrejas cristãs, quando você, por mais jovem que seja, questiona alguma prática, é rotulado de pecador, e tão logo deve ser afastado por ser o "irmão que gera con

Brasil, um país de um mundo atrasado.

Durante toda a minha vida escurtei a frase: "O Brasil é um país atrasado". Vinha da boca dos mais velhos, obviamente; bancários, funcionários públicos, motoristas e cobradores de ônibus, dos pais, tios, padrinhos, amigos dos pais, taxistas, pedreiros, religiosos, enfim, este era o meu círculo social na época. Mas de todos estes, dos que mais ouvi vieram da boca dos meus professores, especialmente de geografia e história. Era um bombardeio diário à imaginação e auto-estima: "O Brasil é um país atrasado", e tão logo vinha a inevitável comparação com os ícones da economia da época: EuA, Japão, e uma parcela ínfima de países da península ibérica que todos teimam em chamar de Europa. "O Brasil é um país atrasado" sempre esteve em meu imaginário quando eu posso ver reflexos de avanço representados pelas mais finas e altas classes sociais, que desfrutam de parte disso, geralmente trazidos do exterior, repetindo gole a gole, de seja lá qual for a sua b